A Escolarização Desescolarizada. É o que temos pra hoje

ImagemPor Dede Lovitch

Fui à escola pela primeira vez aos seis anos, no que chamávamos de prezinho, num colégio de freiras, com regras disciplinares rígidas, uniforme tradicionalíssimo, com gravatinha e tudo. Tenho poucas lembranças de lá, só sei que me sentia um peixe fora d’água e que havia uma freira que andava prá lá e prá cá com uma tesoura dependurada no hábito com a fama de cortadora de línguas, obviamente de crianças que fossem desobedientes. Fora esse fato me recordo que nas festas juninas eu e minha melhor amiguinha vestíamos os vestidos mais lindos da escola, descobri mais tarde (bem mais tarde, quase agora) que na verdade estávamos naquele momento a mercê das vaidades de nossas mães.

Cinco anos depois uma nova vida escolar estava prestes a começar, chegava à cidade um novo pensamento com novos ares para a ideia de escola. Estava na quinta série e começava a ter graves problemas de relação com duas professoras que usavam como método de avaliação chamada oral, meu coração ia a milhão, não conseguia estudar, me concentrar e muito menos responder às perguntas ali, na hora, mas principalmente da FORMA com que elas queriam, me sentia presa, acorrentada àquele momento que não levava em consideração o sentimento que a situação provocava, enfim, meus pais se atentaram ao meu desespero e decidiram me colocar nessa escola que se mostrava aberta ao diálogo entre escola e família.

Por fim, estudei ali até o fim do ensino médio, fiz grandes amigos, entre eles, professores, me senti um pouco mais livre e sortuda por ter experimentado dos males, o menor, já que a escolarização era inevitável, meus pais foram, o que chamo, presentes e ousados na escolha. Mas uma coisa nunca saiu da minha cabeça, porque precisamos ficar tantas horas e tantos anos na escola ? Alguém sabe? Alguém já parou pra avaliar o conteúdo do planejamento escolar anual? Será que todas as crianças sentem a mesma necessidade? Será que todas querem aprender as mesmas coisas no mesmo momento? Qual é a pergunta mais famosa feita por todos os alunos, de todos as épocas e idades? – “Pra que preciso aprender isso agora?”

Todas essas coisas são explicáveis, sim, explicáveis. Já lemos e ouvimos todas razões pelas quais devemos frequentar escolas, mas duas que mais me espantam são que as crianças precisam socializar e também precisam sair das ruas, da marginalidade. No caso da última trata-se de um fato triste que ocorre em países onde a miséria ainda é o principal problema. Mas socializar… Precisamos de um mediador para proporcionar a socialização de nossos filhos?

A ideia da não escola vem permeando meus pensamentos desde sempre, primeiro como um sonho infantil o qual acredito todo mundo ter tido um dia, mas foi amadurecendo com minha curiosidade sobre o assunto durante muitos anos e virou um modo de vida depois do nascimento do meu primeiro filho, o Bernardo.

Da chegada do Bernardo até esse dia que vou relatar aqui se passaram seis anos, seis anos de desescolarização em mim, pois ele já nasceu sem escola.

27 de janeiro de 2014. Bernardo está com seis anos e exatos 4 meses.

13:30h – Bernardo chega à escola. Me dá um beijo apressado, entra, para, olha pra trás e me fita com alegria. Percebo que está curiosíssimo com a nova situação. Saio empurrando o carrinho da Constance e começo a chorar ali na esquina mesmo. Não paro de andar e me sinto frustrada. Me sinto cansada. Me encontro confusa. Chego em casa, estou perdidinha. Tenho que trabalhar. Troco a Constance e vou pra reunião.

17:00 – Vou buscá-lo. Só sai às 18:00 Nossa, quanto tempo aí dentro.

17:50 – Ele sai, todo suado, me olha aliviado: – Estou morto de cansado mamãe.

18:00 – Estamos em casa Bernardo janta com Constance Conversamos um pouco, só um pouco Cansado demais para brincar com a irmã. Pede pra jogar um joguinho eletrônico Falo que por 20 min tudo bem Ele adormece em 10.

Na sexta feira, 31 de janeiro de 2014.

18:00 – Ele me olha e na maior naturalidade do mundo: – Mamãe, eu não quero mais ir à escola tá?

Porque ele teve que ir à escola?

Na próxima eu conto.

Acredito que criar, socializar e amar os filhos é de total responsabilidade da família, precisamos recuperar nossa autonomia e força. Temos que encontrar alternativas, nos mexer, nos unir com outros pais e nos virar em mil para, enfim, #criarsemmedo.

2 thoughts on “A Escolarização Desescolarizada. É o que temos pra hoje

  1. rechain diz:

    Eu adorei o assunto! Agora estou mais atenta.
    Na minha época de escola passei por dificuldades e anseios. Tb mudei de escola!
    Meu mais velho acabou de começar em uma escola nova …. Que eu e o pai escolhemos! Até o momento está sendo uma descoberta para ele, acredito que está na fase do encantamento … Mas vou ficar de olho e sentir como ele ficará no decorrer desse primeiro ano!
    Adorei seu artigo!
    Parabéns a todas!

  2. Camila Santinoni diz:

    Adorei tb saber que não sou a única que não colocou a filha de 3 anos ainda na escola. Tem gente que olha e pensa “em que mundo você vive? como assim ela não vai pra escola?” Penso isso mesmo, ela vai ter o resto da vida pra estudar, pra que começar tão cedo? porque todo mundo vai? Estou adorando o blog e ansiosa pelos próximos artigos! boas inspirações às 3!

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