Fui à escola pela primeira vez aos seis anos, no que chamávamos de prezinho, num colégio de freiras, com regras disciplinares rígidas, uniforme tradicionalíssimo, com gravatinha e tudo. Tenho poucas lembranças de lá, só sei que me sentia um peixe fora d’água e que havia uma freira que andava prá lá e prá cá com uma tesoura dependurada no hábito com a fama de cortadora de línguas, obviamente de crianças que fossem desobedientes. Fora esse fato me recordo que nas festas juninas eu e minha melhor amiguinha vestíamos os vestidos mais lindos da escola, descobri mais tarde (bem mais tarde, quase agora) que na verdade estávamos naquele momento a mercê das vaidades de nossas mães.
Cinco anos depois uma nova vida escolar estava prestes a começar, chegava à cidade um novo pensamento com novos ares para a ideia de escola. Estava na quinta série e começava a ter graves problemas de relação com duas professoras que usavam como método de avaliação chamada oral, meu coração ia a milhão, não conseguia estudar, me concentrar e muito menos responder às perguntas ali, na hora, mas principalmente da FORMA com que elas queriam, me sentia presa, acorrentada àquele momento que não levava em consideração o sentimento que a situação provocava, enfim, meus pais se atentaram ao meu desespero e decidiram me colocar nessa escola que se mostrava aberta ao diálogo entre escola e família.
Por fim, estudei ali até o fim do ensino médio, fiz grandes amigos, entre eles, professores, me senti um pouco mais livre e sortuda por ter experimentado dos males, o menor, já que a escolarização era inevitável, meus pais foram, o que chamo, presentes e ousados na escolha. Mas uma coisa nunca saiu da minha cabeça, porque precisamos ficar tantas horas e tantos anos na escola ? Alguém sabe? Alguém já parou pra avaliar o conteúdo do planejamento escolar anual? Será que todas as crianças sentem a mesma necessidade? Será que todas querem aprender as mesmas coisas no mesmo momento? Qual é a pergunta mais famosa feita por todos os alunos, de todos as épocas e idades? – “Pra que preciso aprender isso agora?”
Todas essas coisas são explicáveis, sim, explicáveis. Já lemos e ouvimos todas razões pelas quais devemos frequentar escolas, mas duas que mais me espantam são que as crianças precisam socializar e também precisam sair das ruas, da marginalidade. No caso da última trata-se de um fato triste que ocorre em países onde a miséria ainda é o principal problema. Mas socializar… Precisamos de um mediador para proporcionar a socialização de nossos filhos?
A ideia da não escola vem permeando meus pensamentos desde sempre, primeiro como um sonho infantil o qual acredito todo mundo ter tido um dia, mas foi amadurecendo com minha curiosidade sobre o assunto durante muitos anos e virou um modo de vida depois do nascimento do meu primeiro filho, o Bernardo.
Da chegada do Bernardo até esse dia que vou relatar aqui se passaram seis anos, seis anos de desescolarização em mim, pois ele já nasceu sem escola.
…
27 de janeiro de 2014. Bernardo está com seis anos e exatos 4 meses.
13:30h – Bernardo chega à escola. Me dá um beijo apressado, entra, para, olha pra trás e me fita com alegria. Percebo que está curiosíssimo com a nova situação. Saio empurrando o carrinho da Constance e começo a chorar ali na esquina mesmo. Não paro de andar e me sinto frustrada. Me sinto cansada. Me encontro confusa. Chego em casa, estou perdidinha. Tenho que trabalhar. Troco a Constance e vou pra reunião.
17:00 – Vou buscá-lo. Só sai às 18:00 Nossa, quanto tempo aí dentro.
17:50 – Ele sai, todo suado, me olha aliviado: – Estou morto de cansado mamãe.
18:00 – Estamos em casa Bernardo janta com Constance Conversamos um pouco, só um pouco Cansado demais para brincar com a irmã. Pede pra jogar um joguinho eletrônico Falo que por 20 min tudo bem Ele adormece em 10.
Na sexta feira, 31 de janeiro de 2014.
18:00 – Ele me olha e na maior naturalidade do mundo: – Mamãe, eu não quero mais ir à escola tá?
Porque ele teve que ir à escola?
Na próxima eu conto.
Acredito que criar, socializar e amar os filhos é de total responsabilidade da família, precisamos recuperar nossa autonomia e força. Temos que encontrar alternativas, nos mexer, nos unir com outros pais e nos virar em mil para, enfim, #criarsemmedo.
Eu adorei o assunto! Agora estou mais atenta.
Na minha época de escola passei por dificuldades e anseios. Tb mudei de escola!
Meu mais velho acabou de começar em uma escola nova …. Que eu e o pai escolhemos! Até o momento está sendo uma descoberta para ele, acredito que está na fase do encantamento … Mas vou ficar de olho e sentir como ele ficará no decorrer desse primeiro ano!
Adorei seu artigo!
Parabéns a todas!
Adorei tb saber que não sou a única que não colocou a filha de 3 anos ainda na escola. Tem gente que olha e pensa “em que mundo você vive? como assim ela não vai pra escola?” Penso isso mesmo, ela vai ter o resto da vida pra estudar, pra que começar tão cedo? porque todo mundo vai? Estou adorando o blog e ansiosa pelos próximos artigos! boas inspirações às 3!