Por Paty Juliani
“Mamãe, tenho medo (aos prantos)”
“Não precisa ter medo. Vai dar tudo certo. Você consegue”
“Mamãe, eu não quero (aos prantos)”
“Filha, se acalme. A mamãe jamais pediria pra você fazer qualquer coisa contra sua vontade mas é necessário. Você vai fazer 4 anos. Está grande. Precisa aprender a nadar sem bóia. Não tem jeito, meu amor. É para sua segurança.”
E a conversa termina com a “tia” entrando e a levando para a piscina, aos prantos, com aqueles olhinhos de desespero, me pedindo ajuda.
E a coordenadora em cima de mim, me levando para outro lado, com um discurso que duraria quase uma hora. Ela dizia que eu tinha que ajudar minha filha. Que eu não podia mostrar insegurança. Que eu tinha que sair de seu campo de visão, para ela se sentir segura com os professores. Que dos 4 aos 6 anos a natação é uma questão de sobrevivência, etc, etc, etc.
E eu ali, com aquela cara de pânico, fingindo ouvir tudo, mas completamente desesperada. Minha vontade era ir abraçar minha pequena e tirar ela dali. Eu pensava se realmente aquilo era necessário, se eu estava fazendo a coisa certa.
Meu marido, que é mais racional e me conhece muito bem, me abraça e diz que está tudo bem. Que ela estava se acalmando. Se soltando. E que sim, a gente estava fazendo a coisa certa. Por segurança.
Até este momento, não lembro de nenhuma situação onde minha filha tivesse demonstrado tanto medo e insegurança.
Em todas as situações que vivemos juntas, os medos sempre foram meus.
Quando ela nasceu e encontrei dificuldades na amamentação, eu entrei em pânico. Ela, com a paz e serenidade daqueles que acabaram de chegar, me ajudou nessa primeira batalha. Não desistiu de mim e conseguimos.
Quando decidimos colocá-la na escolinha, eu fiquei apavorada e insegura (confesso que sofro dessa insegurança até hoje). Ela não. A adaptação foi tranquila e suave.
Quando ela fez 3 anos e decidimos que era a hora de se despedir das chupetas, ela o fez. Eu, com medo e ela com tranquilidade e sabedoria. Colocou todas as chupetas na caixinha, disse adeus e pediu para o Dunga (anãozinho da Branca de Neve) levá-las e trazer algo em troca pois tinha crescido. Desde esse dia, ela nunca mais pediu chupeta. Simples assim.
Quando fui desfraldá-la, o medo novamente foi meu. Era a hora certa? Recuei na primeira tentativa (por puro instinto e observação) e obtive sucesso na segunda tentativa. Não foi nada traumático, nem complicado.
O intestino funcionava normalmente e acabou tirando a fralda noturna praticamente sozinha. Conto nos dedos as escapadas de xixi.
Nunca teve medo de monstros – alguns acha engraçado, outros até bonitinhos.
A bruxa nunca foi problema, já que ela é princesa e princesa sempre consegue se safar da bruxa, seja jogando uma bola de fogo ou fazendo uma parede invisível.
Gosta de escuro e de altura.
Portanto, aquela insegurança toda era algo muito novo e assustador para mim.
Ela sempre nadou e gostou, desde que muito bem protegida pela bóia e não tendo que molhar o rosto.
Sempre foi assim, inclusive no banho, para lavar os cabelos.
Eu sabia que isso ia ter que mudar.
E, essa hora chegou.
Era o momento de superar um desafio. Subir mais um degrau. Encarar. Sair da zona de conforto e ir para o desconhecido.
Crescer.
E eu, sofri.
Eu sofri ao ver minha filha assim – frágil, insegura e com medo.
Sofri por saber que ela ainda terá que enfrentar muitos outros medos.
Sofri por saber que essa fragilidade e insegurança irão acompanhá-la muitas outras vezes.
Sofri por saber que não poderei tirar isso dela e protegê-la.
Sofri por saber que, muitas vezes, vão tentar convencê-la a desistir pois ela não irá conseguir.
Sofri por saber que algumas vezes ela irá acreditar nisso.
Sofri pois sei que sua caminhada é só sua e as dificuldades serão diárias.
Sofri pois ela estava crescendo. E, crescer é isso. É superar, ultrapassar e encarar os desafios.
Pensando em tudo isso e na responsabilidade de minha missão, respirei fundo. Balancei a cabeça sem saber ao certo o que aquela coordenadora estava falando e, corri para tirar minha filha da piscina pois a aula tinha acabado.
Abracei minha pequena, sorri e disse que me sentia feliz e orgulhosa. Que ela era corajosa e guerreira como uma verdadeira mosqueteira e que eu estava feliz.
Feliz por estar ao seu lado.
Feliz pelo abraço que ganhei.
Feliz pelo sorriso lindo que recebi.
E com a certeza absoluta que sempre estarei lá para dizer que tudo dará certo. Que ela vai conseguir.
Não importa o que seja. Não interessa o contexto. Mesmo que internamente eu não concorde, estarei lá.
Sempre.
Para que ela tenha segurança em sua caminhada.
Para que essa caminhada seja leve.
Para que ela saiba que sua mãe acredita e sempre acreditará nela, não importa o que aconteça.
E, quando eu não estiver mais por perto, ela consiga tomar fôlego, respirar e enfrentar o que quer que seja, pois terá recebido esse apoio durante toda sua vida.
Assim, voltamos da aula de natação mais leves.
Ela, por ter conseguido.
Eu, por estar ao seu lado.
Isso é maravilhoso, são sentimentos que nós mães sentimos e nunca demos conta de nossos medos