By Dede Lovitch
Coisinha… Só pra começar…
Às vezes sinto que vou expor minhas ideias, meus pensamentos, meus afetos e minhas experiências e uma onda de indignação pode me afogar, mas que nada, nada disso, o que percebo são pessoas que passam pelas mesmas coisas e que por algum motivo não conseguem exteriorizá-las.
Hoje escrevo sobre vaidade, um dos sete pecados capitais, na minha visão é um dos maiores egoísmos praticado pelos pais.
Como é difícil nutrir a vaidade, ela sempre está faminta, ali, nas nossas vísceras, cutucando e provocando nossas paixões. Um simples comercial na TV nos leva a um mundo imaginário onde acreditamos (imaginação maior ainda) que podemos suprir nossa vaidade adquirindo coisas.
Essa vaidade vem acompanhada, e bem acompanhada, do desejo louco, chamo de desejo louco tudo aquilo que pensamos que queremos quando na verdade nunca precisamos. Eles se unem tão perfeitamente que se confundem e se completam, são articulosos, engenhosos e nos conhecem muito bem, sendo assim, acabamos por ser presas fáceis e a todo momento caímos em suas armadilhas, aliás, já caímos tantas vezes que agora o que nos restou foi caminhar, rastejar nesse buraco.
E o buraco ficou tão fundo que a grande dupla (vaidade + desejo louco) não se contenta nem um pouquinho só com as coisas e conhecimentos que estamos acumulando. Agora o que ela quer é se potencializar e se refletir através de outra pessoa. Mas o que ela faz então? Meus amigos, aqui temos a parte mais triste de nossa cegueira e resignação: Ela quer que todos a percebam não somente através de nós mas além de nós, assim brota na nossa frágil e devastada mente o desejo de sermos reconhecidos e admirados por termos a capacidade de tornarmos uma outra pessoa “bela” e “bem-sucedida”.
Preciso continuar?
Sim, nossos filhos, o alvo mais próximo e mais fácil de saciarmos essa vaidade. Eles dependem de nós, confiam em nós e acreditam que tudo que fazemos é para o bem. Atenção!!! Não somos maldosos, estamos sim anestesiados e não percebemos o que está se passando.
Estamos nos contentando com tão pouco, olhar para nossos filhos e perceber que são os mais lindos, os mais espertos, os mais inteligentes, os melhores em tudo, já está nos bastando… Pobre de nós, não estamos sentindo nem vivendo a relação de pais e filhos em plenitude. Nos esquecemos que nascemos completos e preenchidos, tudo que precisamos são as experimentações que a vida nos proporciona, estamos tragicamente tirando isso de nossas crianças.
A partir de agora me excluo desse discurso, não faço mais parte dele, estou em outra fase, tento todos os dias e todos os momentos da minha vida me livrar completamente dessa dupla de parasitas, ainda me pego caindo no buraco, mas rapidamente me levanto saio dali e permaneço atenta e presente na minha vida.
Meus filhos não são minhas coisinhas…
3 Belezas, aborda de uma maneira magistral até onde chega a vaidade.
Filme exibido na edição 38 da Mostra Internacional de cinema (2014). Teaser Oficial