Por Paty Juliani
“Abacateiro acataremos teu ato
Nós também somos do mato como o pato e o leão
Aguardaremos brincaremos no regato
Até que nos tragam frutos teu amor, teu coração
Abacateiro teu recolhimento é justamente
O significado da palavra temporão
Enquanto o tempo não trouxer teu abacate
Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão”
Gilberto Gil
Numa semana difícil e complicada, minha pequena desfralda.
Sozinha!
Não é verão, ela já fez 2 anos há algum tempo e não precisou ser condicionada.
Na semana que começou com consultas e exames desnecessários por estarem doentinhas.
Na semana que descubro Murray Schafer (“Para uma criança de cinco anos, arte é vida e vida é arte. O primeiro ano escolar é um divisor de águas na história da criança: um trauma”).
Na semana que conheço uma mulher que eu já admirava (por seu trabalho humano, agregador e respeitoso com outras mulheres, suas histórias e seus filhos) me dizer que devemos estar atentas para acolher nossas crianças, emocionalmente, quando elas tiverem que ingressar nessa roda vida escolar e competitiva.
Na semana que escuto, com lágrimas nos olhos, o relato de uma mãe muito próxima (mas muito distante emocionalmente) sobre a patologia e medicalização de seu filho.
Nessa semana em que foi difícil ouvir.
Em que foi difícil falar.
Na semana em que perdi o sono e chorei.
Chorei diante da mãe que me dizia estar em paz, fazendo o que deveria ser feito e que não havia nada a questionar.
Chorei pensando como somos agressivos. Como buscamos soluções imediatas e diagnósticos precisos para tudo.
Como atropelamos as coisas.
Como estamos desconectados com nossa natureza e nossas crianças.
Como temos dificuldade de mudar – de conceitos, paradigmas e vidas (muitas vezes para que nossos filhos simplesmente vivam).
Como buscamos, de maneira desenfreada, aprovações sociais, adequações e colocações.
Como nossas escolhas e atitudes influenciam a vida de nossos filhos. E como essas decisões que não são nossas, influenciam nossas vidas.
Como estamos cegos!
Chorei diante de minha impotência. Por ter encerrado uma conversa praticamente implorando para que tudo fosse repensado, medido e cuidado com amor. Com muito amor.
Chorei pelas crianças. Por tantas alfabetizações precoces e exigências sociais. Por acreditar que a grande patologia é dessa nossa sociedade e não delas.
Por constatar que aqueles olhos e ouvidos que recusavam a ouvir e ver novas perspectivas e realidade, eram o reflexo de tantos outros.
Pelo desrespeito ao tempo. Ao tempo de cada um.
Nessa semana tão intensa, emocionalmente, minha pequena vem e pede “calcinha”.
Decide.
Sem choros, ofertas ou condicionamento.
Me mostra, com uma força sem tamanho, o poder do respeito. Da espera. Da colheita. Dos frutos.
Porque se não há regras, há respeito pelo tempo.
O tempo de nossas crianças.
Minha pequena.
Que não é “teimosa”, “temperamental” e que “dá trabalho”. Mas a pequena que quer ser ouvida e pede respeito – por seu tempo, suas emoções, suas vontades e desejos.
A que busca sempre meu olhar – não o olhar de aprovação mas o de cumplicidade.
A que sempre foi ninada, desde o seu nascimento, com “Refazenda”.
A que me trouxe coragem para ser eu mesma e mudar completamente minha vida.
A que veio me dizer que toda colheita tem seu tempo.
A que veio e vem refazendo tudo.
A minha pitica.
Lindo.
Queria, quero e vou conseguir mais mudanças para olhar (e enxergar) mais minha pequena . Ela tbem tem o tempo dela, e que assim seja em todas as fases .
Bjo Paty.