Por Rita Durigan
Tiana já deve ter emocionado você. Ou você já ouviu falar dela. Essa garotinha que teve parte de uma conversa sincera com a Mãe gravada e espalhada rapidamente pela internet.
Tiana não é um gênio. Nem uma criança fora do comum por essas palavras. Ou uma anã disfarçada de criança, como já li por ai. Ela é uma criança dizendo o que sente e ponto. Uma criança comunicativa falando de amor. Provavelmente uma criança que tem – ou teve nesse dia – espaço para se manifestar. Cuja opinião importa – ou importou naquele momento. E assim deveria ser. Sempre.
Crianças não são bonecos ou brinquedos que não entendem o que está acontecendo ao redor. Que não ouvem quando falamos com alguém sobre elas em um tom de voz quase confidencial – muitas vezes com entonação de fofoca mesmo -, como se não estivessem presentes.
Crianças são como folhas em branco e qualquer pinguinho de tinta ou pincelada definida serão percebidos, assim como qualquer sujeira ou borrão.
As vezes elas se calam ou consentem porque, convenhamos, o mundo dos adultos é muito chato pra elas. Ou por insegurança. Medo. Terror. Mas costumam reagir toda vez que há algo errado, estranho, diferente.
Não esperemos que nossas crianças fiquem quietas, brincando sozinhas sem exigir nossa atenção, justamente no dia em que tivemos um feedback péssimo no trabalho, ou recebemos uma notícia triste, ou em qualquer momento delicado. Ok, tudo que precisamos nessas horas é de silêncio, de um tempo, de privacidade, de compreensão. E, no fundo, só o que queremos nesses dias é um porto seguro que nos garanta que vai ficar tudo bem. Porque vai. De um jeito ou de outro, vai.
Nossos filhos também. E, adivinhe? Somos nós seus portos seguros. Quem pode lhes garantir que vai ficar tudo bem. Vai ficar, porque não está. E as crianças sabem, sejamos sinceros. Elas não têm a compreensão de um adulto, mas necessitam se sentir seguras, integradas, protegidas.
Porém, como subestimamos nossos pequenos. Seres ainda descomprometidos com o politicamente correto, mas cheios do senso de amor. É isso e só isso que essa garotinha nos mostra. Que as crianças precisam ser ouvidas. Que elas têm o que dizer. E que dizem na simplicidade do que vêem e sentem, por serem assim. Simples e sinceras.
O silêncio dessa mãe ao final, quase incrédulo, antes de dizer talvez o mais sincero obrigada de sua vida, é o que mais teve sentido pra mim. Calma, eu também me emocionei. Também fui tocada por Tiana. Mas minha pausa, no final, foi por todas as vezes que deixei de prestar atenção no que minha filha quis me dizer em qualquer que tenha sido seu jeito de se comunicar: um olhar, um toque, um choro, um sorriso, um tapa, um abraço, uma palavra, uma frase, uma brincadeira, um bocejo, um não, um sim, um pedido, uma entrega.
Filha, prometo que vou me esforçar todos os dias para parar pra te ouvir mais. Parar de verdade. Te ouvir pra valer. Você, sem dúvida, tem muito mais do que eu imagino pra me dizer.
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