Por Paty Juliani
Nosso ultimo post fala sobre o vídeo da pequena Tiana.
Minha parceira escreveu lindamente sobre a importância de escutarmos nossas crianças. E escreveu sobre a sensibilidade da mãe ao final da gravação.
Eu já tinha visto o vídeo e também me emocionado.
E, naquele momento, a angústia da mãe (mostrada no final do vídeo e mencionada no post anterior) é que ficou reverberando na minha cabeça.
Imediatamente, me lembrei dela.
Da amiga que me dava carona todos os dias após as aulas de teatro.
Daquela que conhece e dirige melhor do que ninguém em São Paulo.
Da que fez eu comprar passagens de ida e de volta para a Bolívia, sem saber o que iria acontecer no meio do caminho.
Daquela que me apresentou o Teatro Oficina e fez eu ver Zé Celso e Renée Gumiel juntos.
Da que foi assistir comigo a estréia de Dogville no cine da Augusta, numa quarta-feira qualquer e que ainda discute comigo sobre ele.
Daquela que me levou num curso de Filosofia para ouvir Fuganti, quando eu estava grávida, de 8 meses, de minha primeira filha.
Da que ama o mato, o orgânico, Pina Bausch, Maria Abramovic, Nietzsche e Jesus Cristo.
Daquela que me levou para casar (literalmente), dirigindo seu carro.
Da que foi comigo ouvir Laura Gutman e sua biografia humana.
Daquela que pulsa arte e que sonha em morar num motorhome.
Da que acredita na potência humana e na liberdade.
Daquela que prefere a experimentação e ama a improvisação.
Da que faz e vive o que acredita.
Daquela que sonhou em ter filhos – e teve.
Da que lavou a alma e curou suas feridas no palco.
Lembrei de sua potência e consciência feminina (e feminista).
De sua maternidade ativa e coerente.
De sua alegria com a primeira gravidez.
De seu susto pela notícia da segunda gravidez.
De sua imensa felicidade por estar gerando uma mulher.
Pensei no quanto eu a amo.
Nas inúmeras vezes em que a admirei.
Na sua coragem.
No seu cansaço.
Nas vezes que achou que não conseguiria.
Pensei nos filhos lindos, educados, amorosos e sensíveis.
Pensei na sua batalha e nas inúmeras conversas que tivemos sobre isso.
Lembrei de já termos conversado sobre a leveza mencionada no vídeo (o que Tiana chamou de “mais baixo”).
Lembrei que um dia eu a questionei, dizendo que talvez essa fosse uma batalha perdida. Que as pessoas só nos dão o que elas tem. E que o melhor talvez fosse aceitar e tentar viver em paz.
Lembrei que ela argumentou que por mais perdida que fosse a batalha, ela não poderia desistir.
Não poderia porque não era certo.
E me lembrei que nesse dia ela me convenceu.
Ela tinha razão.
Ela tem razão.
Ouvir os filhos não é só escutar o que eles tem a nos dizer. É também ouvir os seus sinais. E isso só é feito com presença e atenção.
Uma mulher, que teve e tem um pai sensível, presente e atencioso, não espera outra coisa do pai de seus filhos.
Nenhuma mulher deveria esperar.
Então…quando é preciso ceder? Dá pra ser mais leve (ou “mais baixo)? Como exigir que a figura paterna exerça seu papel na criação dos filhos? Como agir com relação aos filhos?
Não sei.
Provavelmente ninguém sabe.
Não sei a história da mãe da Tiana mas conheço a história dessa minha amiga guerreira.
Esse vídeo poderia ter sido feito para ela, por seu filho que é tão atento e articulado quanto a Tiana.
E também para tantas outras mulheres que travam suas batalhas diárias para conseguir aos filhos, o que lhes é negado.
Não sei a mãe da Tiana mas sei que minha amiga está atenta e tenta, tenta, tenta…
Tenta ser “mais baixo” mas muitas vezes é impossível.
Imersa em meus pensamentos, copiei o link do vídeo e mandei pra ela.
Em seguida, fiz minha breve observação: Essa mãe consegue ser “mais baixa”? Ela realmente é intolerante frente a essa situação? E o papel desse pai?
Depois de alguns minutos, ela me responde: “Obrigada! Ainda bem que você falou.”
Realmente, esse vídeo tem muito a nos dizer.
Muito!
Lindo e de muita sensibilidade! Bjs