Para ela e tantas outras

Por Paty Juliani

Nosso ultimo post fala sobre o vídeo da pequena Tiana.

https://criarcomasas.wordpress.com/2015/10/02/uma-pausa-para-nossas-criancas-que-tem-tanto-pra-nos-dizer/

Minha parceira escreveu lindamente sobre a importância de escutarmos nossas crianças. E escreveu sobre a sensibilidade da mãe ao final da gravação.

Eu já tinha visto o vídeo e também me emocionado.

E, naquele momento, a angústia da mãe (mostrada no final do vídeo e mencionada no post anterior) é que ficou reverberando na minha cabeça.

Imediatamente, me lembrei dela.

 

Da amiga que me dava carona todos os dias após as aulas de teatro.

Daquela que conhece e dirige melhor do que ninguém em São Paulo.

Da que fez eu comprar passagens de ida e de volta para a Bolívia, sem saber o que iria acontecer no meio do caminho.

Daquela que me apresentou o Teatro Oficina e fez eu ver Zé Celso e Renée Gumiel juntos.

Da que foi assistir comigo a estréia de Dogville no cine da Augusta, numa quarta-feira qualquer e que ainda discute comigo sobre ele.

Daquela que me levou num curso de Filosofia para ouvir Fuganti, quando eu estava grávida, de 8 meses, de minha primeira filha.

Da que ama o mato, o orgânico, Pina Bausch, Maria Abramovic, Nietzsche e Jesus Cristo.

Daquela que me levou para casar (literalmente), dirigindo seu carro.

Da que foi comigo ouvir Laura Gutman e sua biografia humana.

Daquela que pulsa arte e que sonha em morar num motorhome.

Da que acredita na potência humana e na liberdade.

Daquela que prefere a experimentação e ama a improvisação.

Da que faz e vive o que acredita.

Daquela que sonhou em ter filhos – e teve.

Da que lavou a alma e curou suas feridas no palco.

Lembrei de sua potência e consciência feminina (e feminista).

De sua maternidade ativa e coerente.

De sua alegria com a primeira gravidez.

De seu susto pela notícia da segunda gravidez.

De sua imensa felicidade por estar gerando uma mulher.

Pensei no quanto eu a amo.

Nas inúmeras vezes em que a admirei.

Na sua coragem.

No seu cansaço.

Nas vezes que achou que não conseguiria.

Pensei nos filhos lindos, educados, amorosos e sensíveis.

Pensei na sua batalha e nas inúmeras conversas que tivemos sobre isso.

Lembrei de já termos conversado sobre a leveza mencionada no vídeo (o que Tiana chamou de “mais baixo”).

Lembrei que um dia eu a questionei, dizendo que talvez essa fosse uma batalha perdida. Que as pessoas só nos dão o que elas tem. E que o melhor talvez fosse aceitar e tentar viver em paz.

Lembrei que ela argumentou que por mais perdida que fosse a batalha, ela não poderia desistir.

Não poderia porque não era certo.

E me lembrei que nesse dia ela me convenceu.

 

Ela tinha razão.

Ela tem razão.

Ouvir os filhos não é só escutar o que eles tem a nos dizer. É também ouvir os seus sinais. E isso só é feito com presença e atenção.

Uma mulher, que teve e tem um pai sensível, presente e atencioso, não espera outra coisa do pai de seus filhos.

Nenhuma mulher deveria esperar.

Então…quando é preciso ceder? Dá pra ser mais leve (ou “mais baixo)? Como exigir que a figura paterna exerça seu papel na criação dos filhos? Como agir com relação aos filhos?

Não sei.

Provavelmente ninguém sabe.

 

Não sei a história da mãe da Tiana mas conheço a história dessa minha amiga guerreira.

Esse vídeo poderia ter sido feito para ela, por seu filho que é tão atento e articulado quanto a Tiana.

E também para tantas outras mulheres que travam suas batalhas diárias para conseguir aos filhos, o que lhes é negado.

Não sei a mãe da Tiana mas sei que minha amiga está atenta e tenta, tenta, tenta…

Tenta ser “mais baixo” mas muitas vezes é impossível.

 

Imersa em meus pensamentos, copiei o link do vídeo e mandei pra ela.

Em seguida, fiz minha breve observação: Essa mãe consegue ser “mais baixa”? Ela realmente é intolerante frente a essa situação? E o papel desse pai?

Depois de alguns minutos, ela me responde: “Obrigada! Ainda bem que você falou.”

Realmente, esse vídeo tem muito a nos dizer.

Muito!

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