por Dede Lovitch
“Toda paciência dedicada nesses momentos não me é suficiente, não lhes são suficientes.
Sinto um sangue que corre mais forte, uma dor que corre de menos.
O choro que demais me incha o cérebro e lhes agride os olhos numa enxurrada de desejos lindamente desalinhados.
Pés que batem, batem, batem, até abrir a boca, naquela boca coloco todas minhas entranhas, naquela boca sei, sei que só cola, cola e pronto.
Mas de novo tinha tudo, era novo, novinho, era novo, tinha tudo.
Toda novidade, todo dia. Dia cansado, feliz, cansado, triste, cansado. Cansado tem bastante, mais que os outros…
Toda cansativa não lhes é suficiente, toda paciência é única, que ainda conheço única, mas cresce, cresceu muito.
Ainda não suficiente.”
Essa narrativa foi escrita no processo de criação do projeto Estado Útero do Coletivo Burla, o qual fui convidada a participar como atriz e co-criadora. Recebemos a proposta de expormos de alguma maneira a nossa visão sobre a maternidade. Resolvi escrever essa narrativa poética de um fato isolado mas que reflete o universo cansado que vivem as mães da contemporaneidade, quando se veem obrigadas a dar conta de tudo, inclusive da intolerância da sociedade.