Viagem ao Japão com criança

por Rita Durigan

Adoramos viajar e o Japão estava na lista da família. Meu marido já conhecia, mas queria voltar. Confesso que, pela primeira vez entre tantos destinos, pensei: “Japão com criança?!?” –  porque desde que nasceu, ou da barriga, Valentina faz parte de nossas aventuras. A duas semanas da viagem – a mala faço na véspera, sempre – comecei a pesquisar. E o Google me mostrou que sim. Japão com criança.

Troquei a insegurança pela excitação da viagem e decidi fazer um diário de bordo dos principais pontos dessa experiência, publicado num post só pra facilitar a vida de quem lê. Ai vai:

Brasileiro precisa de Visto. Tiramos aqui por Nova York, onde moro, e foi tranquilo. Ficou pronto em menos de uma semana. Além de documentos e carta da empresa comprovando vínculo empregatício (pesquise no Consulado Geral do Japão mais próximo de onde você está), tivemos que apresentar itinerário de viagem, passagens, reservas de hotel… E leve a sério pois é a partir dessas informações que eles determinam quanto tempo vão te liberar pra ficar lá. Comprovamos 14 dias de permanência e liberaram 15, a contar do dia que entramos (vai que acontece um imprevisto, né?). E o visto, pelo menos o nosso, tinha validade de 3 meses pra ser usado.

Leia sites, blogs e dicas de viagem, mas sempre atenta ao que se encaixa no perfil da sua família. A partir de um roteiro que meu marido fez – eu sempre fujo dessa parte, mas alguém tem que fazer e ele é bom nisso 🙂 – li e anotei dicas e links interessantes. Também falei com pessoas que tinham acabado de visitar o país ou que moraram lá.

O Japão é caro. Bem caro. E o transporte também. Tem um “bilhete”, o JR Pass, que na maioria dos casos ajuda a economizar. Mas tem que comprar antes de viajar porque não pode ser comprado por quem já está no Japão. Depois de ler o post “Japão: comprar ou não comprar o JR Rail Pass?” e ouvir amigos, decidimos comprar pra 7 dias, metade do nosso tempo de viagem. Comprei por aqui no sábado a noite e na terça estava em casa com um kit incluindo guias, mapas e instruções (leia, são importantes). Foi a melhor coisa que fizemos e, com certeza, economizamos muito.

Tente programar os voos para amenizar os efeitos do fuso horário ao longo do caminho. Saímos sexta a noite de NY, rumo a Istanbul. Chegamos a tarde no horário da Europa e saímos do aeroporto pra Valentina conhecer a Mesquita Azul e a Hadja Sofia – nós já conhecíamos. Jantamos e voltamos pro aeroporto para embarcar na madrugada rumo a Tóquio. Foi uma quebra importante no trajeto de 22 horas. Chegamos em Tóquio a noite, dormimos até a madrugada.

Não é fácil mudar o fuso de 12 horas. Nem de crianças, nem de adultos. Acordávamos todos com fome no meio da noite lá – meio do dia aqui. Tínhamos sempre algo leve e rápido pra enganar o estômago e voltar a dormir – pra Valentina, uma mamadeira resolvia o problema. Ajudou. Quando chegar a tarde você vai estar caindo de sono – além do cansaço normal de viagem. Resista. Ela dormia no carrinho algumas horas e isso ajudou também.

Já no aeroporto ví as tais cadeirinhas de banheiro, parecidas com as de papinha, para as mães colocarem seus bebês, sobre as quais tinha lido. Tem dentro das cabines e fora também. Além de salinha separada para troca e amamentação. Aliás, o que mais tem no Japão é banheiro. A grande maioria limpa e com estrutura. E liberados pra todos. Ah, mas sempre com aquele monte de botões. Se seu filho está na idade que quer apertar tudo, prepare-se para convencê-lo de que aquilo não é brinquedo (risos).

As pessoas são mesmo amigáveis, cuidadosas, atenciosas, principalmente quando você tem criança, como eu já tinha lido. Param para te ajudar só de perceber que você está perdido ou precisando de algo. Às vezes nem precisa pedir.

Ao contrário do que tinha lido, encontramos alguns playgrounds em Tóquio e lotados, como
esse da foto, em Asakusa, entre o Templo de imageKannon e a Tokyo Skytree Tower (foto à dir.). Mas os jardins e templos tem bastante espaço e atração para crianças gastarem toda a energia do mundo e ainda descobrirem o novo diante dos olhinhos curiosos. E se vê muito grupo de criança, sempre com chapéus ou bonés de uma mesma cor para facilitar a identificação, fazendo picnic nos parques (abaixo). E se divertindo muito.

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Se seu(s) filho(s) não tem restrições alimentares e nem problemas sérios em experimentar o novo, o Japão é tranquilo para a alimentação das crianças. Tem sempre arroz – muito arroz branco -, carnes de peixe (nem sempre cruas), frango, porco, vaca e frutos do mar. Os buns (espécie de pão macio e quase que adocicado, recheado de alguma carne) fizeram sucesso com Valentina. Ela também adora Edamame, espécie de soja servida cozida, fácil de encontrar. E curtiu a tradicional sopinha missoshiro. Os bolinhos de polvo com legumes também são bons e leves pra criança. E crianças são bem recebidas em restaurantes que, em geral, oferecem o set de prato e talheres infantil. Já as frutas são bem caras. Mas encontra-se uva, morango, banana…

As lojas de brinquedos são uma atração a parte. A gente se encanta, imagine as crianças. Mas é um programa bem cansativo pelo excesso de produtos, cores, informações e, normalmente, música bem alta. Esteja preparado para isso e intercale com programas relaxantes se for visitar várias. Pra quem gosta, um prato cheio. Fomos na Sanrioworld de Ginza e na Kiddy Land de Harajuru.

Viajar com criança é exercer o respeito às escolhas, individualidades, vontades e necessidades o tempo todo. Estávamos há dias falando em levá-la na casa da Hello Kitty, que é de lá, e quando chegamos em uma das maiores lojas da gatinha, a nossa estava dormindo. Tentamos acordá-la mas ela não deu a mínima, nem diante de todas aquelas atrações em volta. No Palácio Imperial, com sua paisagem estonteante, Valentina se  encantou com… as pedrinhas do chão, que a atraem em qualquer lugar do mundo. Mas também correu e brincou como adora fazer em qualquer lugar do mundo. No bondinho e no vulcão Owakudani, em Hakone, ela estava… dormindo. E tudo bem. Viagem que segue.

As ruas e espaços públicos são impecavelmente limpos, mas lixeiras são raras. A ponto de você celebrar quando encontra uma, ou entrar no banheiro só pra se livrar do lixo. Tenha sempre uma sacolinha pra guardar o seu.

imageNunca, jamais pensei que fosse escrever isso. Resisti a incluir no roteiro, mas meu marido insistiu e, acredite, vale a pena ir à Disney de Tóquio. É a criatividade Disney com o perfeccionismo japonês. Que me desculpem, mas muito melhor que a americana. Muito fácil ir de trem. Rápido e pára na porta, literalmente. Google Maps te ajuda a se localizar de onde você estiver.

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Em Tóquio tem o Ueno Zoo, onde você pode ver de perto pandas lindos comendo, dormindo e brincando, como o da foto. Vale a pena. E se seu(s) filho(s) curte(m) cantar, os karaokês japoneses são clássicos. Alugue uma salinha – que, por incrível que pareça, não são caras -, ligue as câmeras e aproveite para pagar mico enquanto seus pequenos se divertem. Bom demais.

 

 

Visitar os templos com criança de colo ou carrinho não é a melhor experiência da viagem. São muitas escadas. Muitas. E a maior parte do que é plano é coberta por pedregulhos pelas quais as rodas dos carrinhos não deslizam. Mas visitar templos com criança faz parte da melhor experiência da viagem. Então, força ai que vale a pena. Se a criança já anda, vai ter horas que você vai torcer pra que esteja dormindo relaxada no carrinho. Em outras, invente brincadeiras de quem chega primeiro, contar degraus, o que será que tem lá em cima e divirta-se. É o melhor a fazer e, lembre-se, criança é esponjinha e  aprende o tempo todo.

Tenha sempre água à mão. Tem muitas máquinas automáticas que vendem bebidas, inclusive quentes, espalhadas por todo canto. Vocês vão sentir sede.

Por falar em água, há uma fonte para purificação das mãos nas entradas da maioria dos templos que Valentina adorou. Não podia ver uma que queria lavar as dela, do pai, da mãe e de quem quer que passasse por lá (risos). A gente explicou que era sagrado, mas deixou ela viver essa experiência também. Sem falar nas vezes que queria dançar nas entradas dos templos, que ela chamava de castelo; correr; pisar onde não podia; escorregar nos corrimãos das escadas… ser criança. Faz parte da viagem e do processo de educar. Mas também era emocionante quando ela fazia reverência com as mãozinhas juntas ou balançava os pêndulos de benção e dizia que estava agradecendo ou fazia um pedido.

Aproveite para ensinar algumas palavras da língua local para seu(s) filho(s) como obrigada, olá, tchau. Como as crianças vão ouvir o tempo todo a mesma coisa, aprendem com naturalidade e abrem a mente para o fato de existir outros jeitos de dizer a mesma coisa. E você se derrete toda vez que ouve eles falando japonês 🙂

Fomos à Hakone, há uns 80 km de Tóquio. Experiência incrível. Chegar já é uma aventura. Você sobe uma montanha de trem, sem nem entender imagepra onde está indo. E lá, bem mais no alto, fica o vulcão Owakudani. Imperdível. O passeio de barco – que parece aqueles barcos piratas de filme – também é impressionante. E tem o museu de arte a céu aberto que vale muito a visita. Postei algumas coisas no Instagram @criarcomasas. Uma das obras é uma espécie de colméia onde as crianças podem brincar (foto).

 

 

 

Se for a Kyoto, Inclua Nara no seu roteiro. Fica perto e fácil ir de trem e as crianças – de todas as idades – ficam enlouquecidas com as renas espalhadas pelas ruimageas, parques e calçadas. Mas cuidado, elas também atacam comida. Uma arrancou o pacote de biscoito do carrinho da Valentina e meu marido teve que travar uma luta para tirar o plástico da boca dela. E cuidado, elas mordem. Também vi uma atropelar uma criança para comer o que estava nas mãos da pequena e outra que queria pegar o sorvete – de chá verde, ou Matcha, que Valentina amou – das mãos da minha filha. Sim, são animais em meio a uma multidão de curiosos. E, nem por isso, deixam de ser fofos.

Aliás, em Nara encontramos um casal de brasileiros que tinha viajado sem a filha, da mesma idade da minha. Perguntaram se estava tranquila a viagem com ela e se eu recomendava. “Sim, claro que sim.”, respondi, como diria Valentina. É cansativo, mas muito mais divertido 🙂 E ver os olhinhos deles encantados por tudo, acordar e dormir juntinhos, aprender e ensinar juntos, curtir uma viagem inesquecível dessas em família, não tem preço. Fica pra sempre na memória e no coração.

Não vou me extender muito, pois o post já está longo. Recomendo também o uso de um guia de viagem de papel durante para não perder tempo nem atrações que possam te interessar. Não conte apenas com mapas digitais: são confusos e, quase sempre, aparecem em japonês. Fique atento aos horários que cada templo abre e fecha. Normalmente cedo. Se alguém quiser dicas mais específicas dos lugares por onde passei, pode mandar email pro criarcomasas@gmail.com que a gente conversa 😉

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Arigatō gozaimashitaaaaaa, Japão. 🇯🇵❤️

 

2 thoughts on “Viagem ao Japão com criança

  1. Glória diz:

    Ahhhhhhhhhh, adorei e vivi a viagem !
    Uma experiência muito especial. Quem sabe na próxima vida irei até lá, kkkkk.
    Quero saber mais ainda pelo ponto de vista de Valentina. Outro foco, visão de criança…

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