Por Paty Juliani

Foi um choro sentido, baixinho, vindo lá de dentro. A cabecinha foi abaixando e as lágrimas começaram a escorrer. Um soluço.
“O que foi Paola?” pergunta a irmã
Uma corrida até a almofada do sofá.
O rosto encoberto e as lágrimas ainda escorrendo.
“Filha, o que foi?”
Te pego no colo.
Você tenta esconder o rosto ainda com lágrimas.
“Fala pra mamãe. Deixa eu te ajudar.”
Bem baixinho, você responde: “Vou falar pra Juju.”
E, no ouvido da irmã, sussurra: “Vou ficar com saudade.”
E nessa hora, eu chorei!
A conversa daquele momento era minha e de sua irmã.
Conversávamos sobre o próximo ano. Sobre a mudança de escola dela. Sobre essa nova etapa. Sobre crescer. Sobre concluir e aproveitar o momento presente. Mas também sobre as imprevisíveis expectativas do futuro.
Eu, procurando as palavras corretas e curtindo o diálogo tão articulado com sua irmã, que está crescendo tanto e já tem tanta curiosidade pelas coisas desse mundo.
Mas você estava ali. Presente. Ouvindo tudo. Quietinha.
Essa foi a segunda vez que você reagiu dessa maneira.
O mesmo choro sentido, contido e em silêncio.
Nos dois momentos, a conversa era minha e dela. Mas, quem reagia era você.
Na primeira vez que isso aconteceu, eu tentava explicar, com muito cuidado e sensibilidade, que o vovô tinha virado estrelinha.
Você tinha 2 anos e sua irmã, 5.
Ela tinha consciência do que estava acontecendo e eu me preocupava como ela iria receber essa notícia.
Você era muito pequena e, provavelmente não estava compreendendo a dimensão de tudo aquilo.
Mas estava!
Eu falava e olhava para sua irmã, preocupada.
Enquanto ela tentava entender, você abaixava a cabecinha e começava a chorar.
Um choro contido. Profundo.
Nós nos assustamos.
Eu e ela.
As duas vezes.
E a acolhemos.
Nos abraçamos e compreendemos.
Essa é você!
A minha pequena, tão forte na musculatura, tão decidida de suas vontades e que tem uma sensibilidade e um amor que não cabem em si.
A minha menina que gosta de brincar de casinha. Que tem cinco filhas meninas. Que batiza todas elas com nomes de amigas reais. Que nina “suas filhas” no sling. Que beija todas antes de colocá-las no bercinho.
A pequena que canta e faz músicas o tempo todo. Que pega seu violão quando eu pego o meu. Que adora nadar. Que inventa saltos e manobras no pula-pula.
Que pede a sopa de feijão da mamãe, o macarrão verde do papai e quer tomar chá de melissa antes de dormir “para ficar quentinha”. A que gosta de pão “purinho” ou com manteiga “banca”. A que pede “só um empurrãozinho” no balanço, mil vezes. Que adora “peixinho rosa” (peixe cru) e ovo molinho. Que quer comer pepino toda hora.
Minha pequena que fica brava quando a chamamos de pequena “porque é grande”.
A que pega todos os dias uma florzinha do nosso jardim para me dar de presente.
Que toda a vez que entra no carro, fala: “estou com fome”. E quer castanha ou banana – para desespero de todos.
A minha menina que só quer usar roupas “felizes” (coloridas). Que lê livros para os bichinhos de pelúcia. Que adora ouvir a história da “cachinhos dourados”, a música “yellow submarine” e desenhar em papéis pequenos. A que diz que vai ser cozinheira.
A que, com tão pouca idade, só faz o que quer. Que ama com intensidade, abraça e beija o tempo todo e nunca negocia afeto.
A minha sagitariana de cabelo comprido cor de chocolate e olhos brilhantes de jabuticaba.
A que só quer a mamãe. E é tão parecida com o papai.
Tão corporal.
Tão intensa.
Tão amorosa.
Tão calorosa.
Tão linda!
Quatro anos se passaram. E passaram rápido demais.
Hoje estamos em festa.
Por você.
Por termos você.
Por tanta vida e tanto amor.
Você nos ensina o tempo todo através dele.
Filha, seu nascimento me libertou e seu amor me impulsiona.
Obrigada pela escolha e pela oportunidade.
Amo você até o infinito e além ❤️

“Fique assim, fique assim
Sempre assim
E se lembre de mim
Pelas coisas que eu dei
E também não se esqueça de mim
Quando você souber enfim
De tudo o que eu amei”
Toquinho