por Rita Durigan
Dia 27 de março foi o Dia Mundial do Teatro. Postamos no facebook.com/criarcomasas um link com parte da história dessa data, que conta que a primeira manifestação teatral de que se tem notícia foi a de sombras em uma parede à partir da luz de uma fogueira. A dica do dia foi: brincar de sombras na parede com as crianças 😉
Mas o teatro tem uma relação muito mais profunda com esse blog. Foi através dele, de um curso que fizemos, que nós 3, Dede Lovitch, Paty Juliani e eu, Rita Durigan, nos conhecemos. Uma de nós, a Dede, teatróloga, atriz, diretora e bailarina, se manteve profissionalmente vinculada à essa arte. Tanto que fez de sua casa um teatro e faz teatro na própria casa, onde vive com os dois filhos: Bernardo, 9 anos, e Constance, 4. É essa rica experiência que ela conta agora.
Rita Durigan: O que é o teatro real?
Dede Lovitch: O teatro real é um teatro (risos). Há um espaço físico, mas também um conceito. Acredito como real tudo que atende as necessidades do ser humano. O ser completo, sem faltas produzidas por falsos desejos criados pelas demandas da sociedade. Penso que o teatro tem como caminho atravessar e romper tudo que anestesia nossos sentidos, o teatro tem a força de mostrar tudo aquilo que nos recusamos a enxergar, ele nos dá o horizonte. O teatro real também surgiu na necessidade de adaptar minha vida artística com minha vida de mãe. Resolvi então dividir um galpão, cedido pelo meu pai, em dois. Uma parte é minha casa, a outra é o teatro real. Tornei assim minhas duas paixões possíveis de serem compartilhadas, meus filhos e minha arte.
Rita Durigan: Como é viver em um teatro e fazer teatro na sua casa? Como isso afeta a vida dos seus filhos?

Encontro “O Ser Criança- Vamos brincar de massinha”, que aconteceu em dezembro/2016 no Teatro Real.
Dede Lovitch: É uma delícia conseguir fazer tudo isso junto e misturado. No teatro real, recebemos vários grupos que ensaiam, conversam e se apresentam. Recentemente começamos a usar o teatro real também para os encontros presenciais da plataforma Criar com Asas, onde já exploramos o comportamento, o brincar, os vínculos, e tem muito mais por acontecer.
Abri o teatro como um espaço colaborativo compartilhado, as crianças circulam muito bem nos dois espaços (casa e teatro) e aprendem todos os dias. Às vezes são convidadas a assistir, mas já foram também convidadas a se retirar (risos). Acredito que essa convivência com várias pessoas diferentes, com regras diferentes, as tornem pessoas mais tolerantes e compreensivas a respeito das diversidades. A relação com a arte é muito presente e percebo que só tem trazido bons frutos, tem ajudado bastante, principalmente o Bernardo, com seus 9 anos, a se adaptar em novos ambientes e fazer novas amizades. Tenho notado em casa que na hora de fazer a lição ele opta por caminhos lúdicos no entendimento e resoluções de questões. Os dois também usam muito o espaço para brincar quando está livre. Gostam de cantar, montar coreografias e cenas, montar barraquinha, lutar com dragões ou simplesmente deitar no chão e apreciar o ócio.
Quando eu tenho algum evento ou ensaio no teatro, converso com eles antes e explico se eles vão poder participar ou não, e de que maneira. Eles entendem que se precisarem ficar em casa, podem brincar até a mamãe chamar. E se tiverem qualquer problema é só correr aqui, afinal, só uma porta nos separa.

Bernardo e Constance, vivendo o teatro.
Rita Durigan: Qual a relação deles com o teatro ou arte em geral?
Dede Lovitch: É uma relação direta, o teatro está na vida deles. Eles brincam de teatro, a mamãe brinca de teatro, faz teatro, o papai também faz teatro, eles vivem de teatro, o teatro vive em nós. O pai deles trabalha com iluminação teatral e sempre está em cartaz nos maiores teatros da cidade, muitas vezes eles vão junto e já estão aprendendo a parte técnica também, como é ficar do outro lado do palco, e gostam bastante. Desenvolvem um outro olhar para a peça artística. Quando vamos à uma exposição ou ao cinema, percebo que eles ficam olhando para tudo, desde onde a obra é colocada até quantas pessoas cabem no espaço e se é um ambiente adequado ou não pra ocasião. Em obras interativas, possuem uma espontaneidade enorme e participam com muito entusiasmo.
Rita Durigan: Como o teatro entrou na sua vida?
Dede Lovitch: Essa resposta é fácil, eu já nasci com ele. De uma maneira incrivelmente natural, sempre senti o teatro dentro de mim, sempre tive na mente e no corpo que a minha melhor parte era a do teatro. E sempre tive um modo muito “meu” do fazer teatral. Mas efetivamente comecei a querer me profissionalizar em 2002, quando entrei para o Teatro Escola Macunaíma, me formei lá e não parei mais.

Dede Lovitch (esq.), Karen Francis, Bernardo e Constance, em uma improvisação.
Rita Durigan: Qual a principal diferença na sua relação com o teatro, e na deles com o teatro?
Dede Lovitch: A diferença é muito simples, eu vivi a maioria dos meus anos num teatro imaginário. Eles vivem, desde sempre, um teatro real.
Serviço:
Teatro Real teatroreal.com.br
Rua Angelo Ferro, 20 – Nova Gerty – São Caetano do Sul – SP
Tel.: (11) 26293011