“Aonde for não quero dor

Eu tomo conta de você

Mas te quero livre também

Como o tempo vai e o vento vem”

Por Paty Juliani

Nos abraçamos apertado e você chorou. Senti as lágrimas caírem em minhas costas e o banheiro que estava tão frio, ficou quente.
“Está tudo bem?”
Você balançou a cabeça fazendo sinal que sim.
Sorri e apertei mais um pouco o abraço já tão apertado.
“Eu estou feliz e orgulhosa. Você está crescendo e se tornando uma menina linda, sensível, forte e corajosa. Está sendo lindo.”
“Mas eu tenho medo” você falou no meu ouvido.
“Todo mundo tem, meu amor. O medo faz parte da vida.”
Você me soltou e sorriu, ainda com as lágrimas no rosto.
“Podemos tentar mais um pouquinho? Eu não queria que fosse na escola, sem você.”
“Como quiser. Mas não se preocupe: se for na escola é porque era a hora. Você está preparada, não vai ter dor e será uma festa. Nunca se esqueça: mesmo longe, eu estou sempre com você.”
E sorrimos.
Sua irmã nos chamava, impaciente, no quarto ao lado do banheiro. Já tinha passado da hora de vocês dormirem.
Peguei o fio dental novamente e “lacei” o dentão da frente para puxá-lo.
“Mamãe, só balance um pouquinho. Não puxe não. Vamos deixar pra amanhã.”
“Como quiser, meu amor.”
Nossa conversa tinha te relaxado e você já estava com sono.
Deitamos. Sua irmã me agarrou e resmungou. Estava quase dormindo mas queria ouvir a história.
Peguei o livro e você me chamou.
“Mamãe, eu estava chorando de alegria.”
E me deu o sorriso “mais lindo do mundo”, como chamo aquele seu sorriso especial.
“Eu sei meu amor. Eu sei. É tão bom chorar de alegria, não é?”
Você balança a cabeça em sinal de sim e me abraça. Vira de costas e dorme.
Olho para sua irmã que acaba adormecendo brava porque aquela noite estava diferente das outras, sem entender ao certo tudo aquilo.
Não sofro por isso. Um dia ela entenderá.
Fecho os olhos, rezo e agradeço.
Nessa noite não teve história para dormir mas teve história para a vida.