Por Paty Juliani
“Não se iludam
Não me iludo
Tudo agora mesmo
Pode estar por um segundo…
Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Transformai
As velhas formas do viver
Ensinai-me
Oh Pai!
O que eu, ainda não sei
Mãe Senhora do Perpétuo
Socorrei!…”
Estamos na última semana do mês de julho, o que significa que o primeiro semestre já se foi e logo mais estaremos no final do ano. Hoje, pensando sobre isso, me assustei com a velocidade do tempo e pensei na lista de coisas que havia feito no início do ano. Uma delas era escrever mais e sempre!
Tenho escrito pouco por aqui mas este ano já escrevi muito. Escrevi e estudei. Mergulhei no universo da infância e tenho me encantado. Tenho feito também muitas outras coisas por mim. E, consequentemente, por nós. Estou bem e isso reflete na nossa vida.
Este ano, nos mudamos de casa. Por nós. Por vocês. Para que nossa rotina simplifique a dinâmica de tempo e espaço e, com isso, ganhamos jabuticabeira, acerola no pé e uma rede vermelha. Vocês tem aguado as plantas, feito a horta com o papai, cuidado do minhocario que veio da escola e brincado muito com as folhas, a grama, as flores e os gravetos. O universo que expande e amplia as percepções, o olhar e a sensibilidade. Isto ainda é muito pouco, pois o ideal é nos conectarmos de verdade com a natureza. Com a nossa natureza. E quase não temos espaço para isso. Mas as coisas melhoraram nesse sentido e estamos na busca. Constante e árdua. De refazer conceitos. De ressignificar moradas. De tantas e tantas coisas…
Fizemos a viagem dos nossos sonhos (minha e do papai). E vocês estavam nela, apesar do susto de muitos e da incompreensão de tantos outros. Mas, lá fomos nós. Os 4! Ficamos 15 dias colados, sem TV e computador, tomando sorvetes, correndo em praças, tomando sol em gramados, desenhando, caminhando, aprendendo, observando e curtindo cada pergunta, cada sabor, cada temperatura, cada pergunta e cada brilho no olhar de vocês frente às novidades e descobertas. Nos fortalecemos. Nos unimos. E tivemos a certeza que essa escolha de estarmos juntos fez e faz ainda mais sentido. E que quando não tiver mais espaço para sermos quatro, teremos tempo de sobra para voltar a sermos apenas dois.
Vivenciei e estou fortalecendo um lindo trabalho que envolve vidas, maternidade e mulheres. Através dele me conecto ainda mais com o feminino, com a minha essência. Iniciei outro trabalho, com uma mulher que é maravilhosa, além de ser uma mãe muito sensível, que envolve histórias e canções. Tenho aprendido muito!
Voltei a dançar. Com mulheres fortes e empoderadas. Uma lindeza de encher os olhos e a alma.
Realizei outro sonho: estudei onde sempre quis estudar. Fiz o que sempre quis fazer. Conheci pessoas incríveis. Me transformei!
Presenciei mudanças importantes e decisivas em suas vidas – a escola nova, os dentinhos que caíram, o aniversário de 7 anos…seu sorriso ficou ainda mais lindo com as janelonas que se abriram. Agora você já anda muito bem de bicicleta sem rodinhas, patins e skate. Toca bateria. Lê gibis e quer aprender a fazer contas. Faz desenhos lindos e figurinos para os shows que vocês apresentam aqui em casa. Está cada dia mais curiosa e fala que será uma cientista. Não entende porque não inventaram a máquina do tempo e porque demora tanto para chegar na cidade da vovó. Adora o doce que tem a cor de seus cabelos (doce de leite) e continua gostando de azul (a cor do céu). Já sua irmã, irá fazer 5 anos e não tem mais medo de andar de bicicleta. Canta e dança sem parar e fala que é bailarina. Ela te espelha tanto que agora gosta da cor que você gosta, quer desenhar e pintar sem parar e só brinca do que você quer brincar. Está articulada e muito engraçada. Diz que sua fruta favorita é morango, apesar de quase nunca querer comer morango. Detesta colocar casaco, calças de moletom e roupas tristes (sem cores fortes). É extremamente observadora, continua com franjinha e com longos cílios.
Vocês duas viveram e estão vivendo momentos de extrema cumplicidade e parceria.
E, poder observar esses momentos, é um imenso privilégio!
Entender que o tempo, espaço e as prioridades das crianças não coincidem com a dos adultos plugados e conectados ininterruptamente em redes sociais, números e resultados, dá clareza e até um certo conforto.
Estabelecer com outras mães uma conexão na “maternidade real”, geralmente é mais fácil. Ela existe sim (ninguém pode negar), e as dificuldades realmente são enormes. Conciliar e equilibrar todos os pratos nunca é possível. O esforço imensurável – físico e emocional – que ela demanda, também. A falta de tempo, espaço e respiro é quase um pressuposto. Mas a conexão na maternidade que valoriza as miudezas preciosas do vínculo e afeto, que se constrói na luta diária da vida, também deve existir. E até mais. Pois é isso que alenta, acalma e conforta. Afinal, o tempo fará com que todas essas dificuldades desapareçam como um sopro e o que restará será a solidez emocional e o elo indissolúvel que resultam desse envolvimento que foi construído.
Todos os dias aprendemos e o importante é que estamos juntos nessa caminhada. Tropeçando algumas vezes, nos equivocando outras tantas, mas lutando bravamente para estar atentos e tentar refazer a rota sempre que for necessária (como já fizemos).
Tomar cuidado para que vocês tenham suas individualidades respeitadas e para que entendam que a cientista de hoje pode ser a bailarina ou o que mais quiser ser amanhã, também não é fácil. O mundo faz questão de rotular pessoas, inclusive crianças, desde muito cedo. Fazer com que vocês entendam que isso não pode existir é tarefa obrigatória. Talvez o nosso papel seja exatamente esse: ampliar e abrir novas e inúmeras possibilidades ao invés de fechar.
Expectativas geram frustações e, como pais, temos que nos guiar apenas pelo amor e respeito – por suas escolhas, pelas pessoas que vocês são hoje e também pelas pessoas que serão amanhã.
O mundo é infinito mas o tempo é implacável.
Ainda faltam alguns meses para o ano terminar. Talvez eu ainda aprenda a cozinhar, consiga emagrecer, decida que realmente acordar antes de todo mundo seja importante e algumas outras coisas que coloquei como meta esse ano. Mas, se nada mais eu consegui fazer, acredito que estará tudo bem. Pois o mais importante está sendo feito: estou presenciando e vivenciando suas transformações e tentando (TENTANDO) manter o olhar atento e o coração compassado.
Eu precisava registrar. Para mim. Para vocês. Para que um dia se lembrem de como vocês eram e olhem com amor para quem vocês são.
Com amor.
Mamãe.