O que gostamos – Tully

por Rita Durigan

Tully_(2018_film)Não vou dizer que amei. Tem alguns recursos para jogar a lupa em temas sérios que, particularmente, me incomodam no cinema, e que foram usados ali. Gosto pessoal, eu sei. Achei o final meio conto de fadas – adoraria que na vida real fossem possíveis mais e mais finais felizes como esse, e estou super aberta a discutir opiniões diferentes.

Mas acho Tully, interpretado por Charlize Theron, que co-produz o filme, importante, quando lutamos tanto, todos os dias, para mostrar como o papel de mulher-mãe pode ser solitário, cansativo, sufocante, e, em alguns casos, enlouquecedor.

Quem me conhece sabe minha opinião sobre isso (baseada na minha experiência e com respeito a todas as outras opiniões e realidades): não são os filhos que pesam, mas toda a falta de apoio, de compreensão, de estrutura social para que a gente possa criá-los como realmente gostaríamos. Vou dar um exemplo do que eu penso, pra deixar mais claro: Não peça pra ir passear com minha filha, enquanto eu limpo a casa. Se você quer mesmo ajudar, sugira que a gente limpe a casa juntos, assim sobra tempo pra eu fazer o que mais amo que é passear, brincar e estar perto da minha filha.

Ok. Tem dias que a gente quer sim que alguém assuma os filhos pra que a gente possa ver um filme, ler, ou simplesmente fazer nada. Humano, certo? Mas, pra maioria das mães, essa falta de tempo só se agrava por todo o resto de inacabáveis afazeres que parece que só nós mesmas vemos e temos a obrigação de fazer e que não nos deixa tempo nem pra entender essa sufocante avalanche.

Quando chega o final do dia, também estamos exaustas, mesmo que tenhamos passado o dia todo em casa. “Em casa.” Também gostaríamos de nos jogar no sofá, sem culpa, e curtir um momento de privacidade. E Tully mostra isso. Mostra a culpa por não sermos perfeitas rondando o tempo todo nossas mentes já atribuladas. Mostra como parece natural a desigualdade que mora nos nossos lares, quando vamos acumulando funções, inclusive a de mãe. Como nos tornamos transparentes para o mundo. E, o que acho mais doloroso, como muitas vezes nem nós mesmas nos incomodamos mais com isso. Porque passou a ser normal, o que não é.

Tully mostra também, através de uma amizade aparentemente improvável, como é importante, muitas vezes, sairmos de nossa zona de conforto de conviver apenas com as que consideramos iguais, para respirar o oxigênio de quem vive em outro mundo. Eu, particularmente, já passei por isso. Num momento daquelas crises pessoais, tive ajuda de uma pessoa muito especial, bem mais jovem, solteira, sem filhos, e que tem um estilo de vida muito diferente do meu. E que me ajudou a me reencontrar dentro da confusão que estava dentro de mim, simplesmente me chamando para a superfície.

Recomendo Tully (clique aqui para ver o trailer). E, mesmo não tendo amado – talvez eu tenha ido assistir esperando mais -, gostaria de falar sobre ele com quem viu.

 

 

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