Por Paty Juliani
– Vamos tentar de novo?
– Mas eu nunca vou conseguir.
– Como? Já te falei que a palavra nunca não existe?
– Você sempre fala.
– Então escuta. Confie em mim. Nunca não existe.
– Será?
– Certeza.
– E como eu faço?
– Comece novamente. E comece quantas vezes for preciso.
– Mas terei que apagar.
– Então apague.
– Mas vai marcar.
– Sempre marca. Você apaga mas as marcas permanecem. Ela nos faz lembrar das tentativas que tivemos. Isso, quando conseguimos apagar.
– Mas é ruim.
– Eu sei. Sempre é. Mas a gente se acostuma.
Mesmo contrariada, ela pegou a borracha e apagou. Com todo cuidado.
E eu fiquei ali, assistindo e sustentando seu recomeço.
* Esse foi o diálogo sobre a primeira lição de casa que ela me pediu ajuda. Foi sobre um trabalho escolar mas poderia não ter sido.