Na luta é que a gente se encontra

por Rita Durigan (ilustração: ”Amigos Juntos”, por Valentina)

Choram Marias e Clarices, morrem Marielles… Mas quantas mais hão de partir, hão de chorar?

A Paty Juliani, aqui do blog, contou que sua filha Paola ficou curiosa pra saber por quê era tão importante para a mãe que a Mangueira vencesse o Carnanval do Rio esse ano. ”Porque ela contou a história do Brasil que ninguém conta – dos índios, dos negros, dos pobres. Do nosso povo. E essa história precisa ser contada”, respondeu.

Pausa. Desde que soubemos da vitória da Mangueira, quantos casos de mulheres espancadas, abusadas e mortas passaram pela sua timeline? Que, lembre-se, nem de longe é o retrato fiel do que acontece todos os dias.

É uma sobrecarga de fatos e de crueldade que a gente, muitas vezes, prefere não ver. Porque a gente não quer se ocupar da dor do outro. Da luta do outro. Porque a gente se esquece que essa luta é nossa. Que hoje somos leitores passivos e amanhã podemos ser envolvidos diretos nessa enxurrada de atrocidades.

Sim, é atordoador. De dar dor de cabeça, estômago, barriga e querer virar a página, esquecer. Até que bata na nossa porta, onde repousa nossa família, nossos amigos, nossos filhos.

Quando viva, Marielle nos representou. Agora, nós representamos ela. E todas as Marielles que tentam calar – ou calam – a voz todos os dias.

Todo tipo de arte e manifestação cultural e popular tem a força e a potência da representatividade. Com o tema que a Mangueira trouxe para a avenida, vencem as vítimas emudecidas que sangram. Vencem as barreiras cada vez mais próximas que estão sendo colocadas na educação pra esconder e negar a luta dos que querem igualdade. Porque é necessário igualdade primeiro, e depois, só depois, de forma justa, a Paz. Porque acusam os que lutam de baderneiros. Querem que se calem e apanhem ou assistam apanhar sem reação, até perderem a memória.

Marielle foi pra avenida. Pra lembrar que mesmo entre confetes e serpentinas, na luta é que a gente se encontra. Porque não podemos deixar toda a responsabilidade de mudar o mundo para nossos filhos e filhas.

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