por Rita Durigan
Tenho pesquisado bastante sobre educação e aprendizagem na infância – também como parte de estudos e debates que tenho com a Dede Lovitch e a Paty Juliani, amigas e co-autoras aqui do blog – e, obviamente, os algorítimos piraram comigo. Pra quem não sabe o que são, de maneira simples, os algorítimos registram nossas buscas e passos na internet, cruzam os dados e desenham um perfil pra gente. Começam então a nos direcionar informações ‘personalizadas’ toda vez que entramos na rede. Se por um lado pode ajudar na pesquisa, trazendo fontes que talvez não acessássemos por conta própria, também restringe nosso olhar ao que o algorítimo interpreta que queremos e/ou precisamos. Ou ao que é pago pra chegar até quem, como a gente, pesquisa sobre tal assunto… Sim, é robótico, matemático. Falta o olhar humano.
Isso explica, por exemplo, porque conversando com algumas pessoas temos a sensação de que elas lêem notícias muito diferentes das que nós lemos. Essa sensação está correta.
Mas voltando para a aprendizagem infantil e minhas pesquisas, caem em minhas mãos todo tipo de texto e reportagem sobre educação, infância, comportamento, aprendizagem. Tento ler de tudo um pouco. Concordo com uns, discordo de outros, fico no meio termo em alguns. Meu foco – nosso, aqui do blog – é muito alinhado ao Criar com asas. Cada vez mais entendemos a infância como fase para o aprendizado natural. Para o aprender pela descoberta, pelo brincar, pelo fazer e refazer, pela tentativa e erro. A fase de repetir exemplos e/ou criar caminhos próprios. E no papel dos facilitadores desse processo de aprendizagem.
Se a gente olhar pra nossa vida adulta, inclusive, acaba sendo essa a forma pela qual mais aprendemos. Alguns de nós ousamos mais. Outros, recuamos mais. As vezes não nos damos a licença poética da infância para o explorar, o experimentar sem medo. E essa é a magia que faz do aprender algo desejado pelas crianças e natural, quando estimulado da forma correta.
Mas insistimos em preparar nossas crianças para algo que nem nós, nem elas, sabem se e como será. Em antecipar as necessidades e pular etapas, programar o futuro delas.
As vezes me pergunto se não estamos sendo algorítimos na vida de nossos pequenos, interpretando e repetindo comportamentos e entregando pra eles mais do mesmo, o que acreditamos que eles queiram, precisam, quando não, repassando algo que foi pago para chegar em nossas mãos.
Quero encerrar esse post, que é só mais uma reflexão em aberto, com algo lindo que li recentemente:
“Infância não é a preparação para a vida. Infância é a vida.” – T. Ripaldi (compartilhado pela Cristina Leão, do Antes que eles cresçam, via Brain Power Neurodevelopment.
*A imagem do destaque é uma foto do livro “Robots, Robots Everywhere”, – “Robôs, robôs em toda parte”, em português -, escrito por Sue Flies e ilustrado por Bob Staake.
**Esse post faz parte de um processo que rendeu o “Vivemos Esperando”. Talvez você goste de ler também.