por Rita Durigan
Visitar La Casa Azul, onde Frida Kahlo nasceu e viveu a maior parte de sua vida, em Coyoacán, no México, era um sonho compartilhado com minha filha. Somos fãs da Frida. Surgiu uma viagem de trabalho para meu marido e ele sugeriu que embarcássemos junto para essa experiência.
Nos preparamos juntas. Conhecemos a história de Frida, mas nos aprofundamos. Relemos livros infantis (entre eles, Viva Frida); eu vi o filme. Ficamos imaginando como seria estar lá, conversamos sobre o que tínhamos curiosidade de ver… Claro que isso gerou uma certa ansiedade nas duas.
No 1º dia fomos visitar as pirâmides de Teotihuacan. Nem estávamos tão empolgadas, mas foi uma experiência incrível – obrigada, marido ;). Encaramos subir ao topo da Pirâmide do Sol. Nos apoiando, os três. Sentimos o vento forte do alto, curtimos a vista que se perdia no horizonte. É pago na entrada. Uma boa dica para quem vai com crianças é entrar pela entrada em frente à pirâmide que você quer visitar. A caminhada entre uma e outra é longa e pode ser evitada. Mas também pode ser parte da experiência, pois tem muita coisa preservada, uma paisagem diferente e uma energia incrível. Leve bastante água e frutas ou sanduíches para o passeio.
Sobre esse dia, escrevi: ‘Subir. Não é fácil. Vc cansa, se questiona, sente medo. Precisa de determinação, foco, algumas vezes ajuda e incentivo (que pode ser do outro pra vc ou de vc pro outro). Lá em cima. A experiência pode ser incrível, depende muito do que vc foi buscar. É preciso se permitir. Sentir. Calar. Inspira, expira. Repete. Agradecer por estar ali. Se abrir pras sensações. Perceber que há mais acima, e mais abaixo. Talvez vc esteja no meio. Talvez. E isso pouco importa, vc está. É isso. A descida. Exige ainda mais foco. Vc precisa se concentrar, olhando pra baixo. Precisa se equilibrar ainda mais que na subida. Precisa de mãos dadas, olho nos olhos, palavras que confortam, encorajam. Precisa compreender que é preciso seguir. E percebe que juntos tornamos mais fácil a caminhada, não importa quantas pedras ou a inclinação do caminho. E vale muito a pena. Pirámide del Sol. Teotihuacán. México 🇲🇽. Mas poderia ser só a percepção da vida sendo vida.” Percepções do México, dia 1 – Piramides De Teotihuacan.
Na volta passamos no restaurante La Gruta (esq.) uma experiência a parte. Fica logo atrás das pirâmides e é um lugar impressionante. Vale a visita, mesmo que não seja para comer… se bem que a comida é ótima também. E pra fechar a noite, visitamos o Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe (dir.), onde ela teria aparecido para o índio Juan Diego, na Plaza de las Américas 1, Villa de Guadalupe. Este é o segundo santuário católico mais visitado do mundo, atrás apenas da Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Chegou o dia de visitar a Frida Kahlo. Antes, fomos visitar o famoso mural de Diego Rivera (à esq.). Lindo, impressionante. Encantador. E só me deixou mais curiosa ainda por estar no lugar que representava essa mulher, Frida Kahlo, que se apaixonou por Diego e o fez se apaixonar.
Há uma lenda que diz que numa viagem ao México, alguém vai ter piriri. Foi ela, a pequena, de quem mais cuidamos da comida. Então, cuide do que come, não tome água sem ser potável – com garantia. E relaxe um pouco, porque a gente nunca tem o controle de tudo. Ter algo para repôr a flora na bagagem pode ser útil (encontrei Floratil fácil por lá). Recomendação médica: evite dar remédio para cortar o fluxo. É preciso deixar o corpo eliminar tudo, estar sempre hidratado e optar por comidas “brancas”: arroz branco, batata, banana…). Acredito também que a ansiedade agravou o quadro. Aprendizado.
Fato é que entramos no Museu pelo banheiro. Mas quando nos demos conta, nós duas, ela estava no meu colo, já sem dor, nos olhamos e falei: “filha, olha onde a gente está!”. Era o meio do jardim onde Frida Kahlo criava, brincava com seus animais, conversava com amigos, com familiares. Dai em diante, fomos nos encantando por cada canto. Cada detalhe.
É difícil descrever o que nos trouxe cada objeto, cada obra, cada pedaço dessa mulher eternizado ali. Eu esperei muito por entrar nos quartos. Ela tinha dois, o do dia, com vista praquele jardim e com o espelho acima, de onde se via e se retratava, e onde está sua máscara murtuária (foto acima, a esq.). E o da noite, onde fica a urna em forma de sapo que guarda suas cinzas (fotos da dir.). Dizem, porque achei muito ao alcance das mãos pra estar ali mesmo. Também ficam ali alguns de seus “brinquedos”, bonecos teatrais feitos a mão (foto ao centro). Entre outras coisas. Ficamos encantadas. Fomos e voltamos algumas vezes de um quarto para o outro – sim, isso é possível.
Mas foi o cômodo que fica antes dos quartos, seu estúdio, com suas tintas, telas e sua cadeira de rodas (acima), o que mais me pegou. Foi ali que chorei. Que senti uma Frida pulsante. Ali era possível ver a Frida que ela mostrou ao mundo. A que colocou pra fora, em forma de arte, suas dores e angústias, seus conflitos. Frida se enchia de roupas, acessórios e cores, cobria as mesma deficiências físicas que nunca negou ou escondeu de fato, para expor as feridas da alma.
O museu tem muito mais que isso. Tem uma cozinha linda (segunda, da esq./dir.), que pouco me falava dela, a não ser pelas cores. Tem a pirâmide que Diego Rivera constríu no jardim (acima, com nós 3). Tem o quarto que ele ocupou, que antes foi dos pais de Frida (primeira foto, sentido horário). Tem obras regionais, o “laguinho” e a sacada perto dos quartos, vistos em tantas fotos (foto à esq. da que estamos na pirâmide). Tem roupas e os “aparelhos” usados para permitir que o corpo de Frida se movesse, apesar de tantas deficiências. Tem obras e histórias, cartas e recortes.
A sensação que saímos de lá é a de que La Casa Azul é um lugar pra se revisitar. Na memória e, se possível, pessoalmente.
Ah, não deixe pra comprar sua entrada na hora. Compre com antecedência no site em inglês ou em espanhol. As filas são enormes e você corre o risco de não conseguir entrar.
De lá fomos jantar na hacienda San Angel Inn que fica em frente as Las Casas Gemelas, estúdio de Diego Rivera e Frida Kahlo, onde ele viveu até a morte e criou grande parte de suas obras. Hoje é um museu e não entramos, já que fomos passar apenas 3 dias na Cidade do México e não tínhamos tanto tempo. Mas a energia, mesmo de fora, é enorme. O significado dos estúdios lado a lado, em momentos de um relacionamento tão conturbado, diz muito sobre a parceria de vida dos dois. Na região existe um mercado com feirinhas que vale a pena visitar.
Agradecimento especial aos amigos Alexandre, Loredana, Penelope e Lorenzo que tornaram a visita ainda mais gostosa.
No dia seguinte fomos ao Museu Nacional de Antropologia, outra experiência incrível pra passar horas, ou até dias. Vale muito a pena, pra adultos e crianças curiosas ;).
Cidade do México é uma viagem incrível, sem sombra de dúvidas. E deixa sempre algo a mais por ver.
Na volta à NY, visitamos a exposição “Frida Kahlo – As aparências podem enganar”, no Brooklyn Museum, sobre a qual falei aqui.
Se é dos viajantes que levam os pequenos, pode se interessar por “Viagem ao Japão com criança”. 😉