por Rita Durigan

Tive minha fase de chegar em restaurante e ligar o celular para distrair minha filha enquanto eu conversava e me distraia também. Quando mudei esse hábito, mudou muita coisa.

Foi um processo de compreensão de que assim estávamos colocando ela a parte, por mais que eu estivesse o tempo todo de olho e até comentando sobre o que ela via, fingindo ver e me interessar também. Por mais que ela estivesse no meu colo, ou coladinha ao meu lado. O propósito inicial era eu me distrair, certo? E de fato isso nos distraia. Dela. Distraia ela da gente, e assim íamos tornando um jantar em família ou entre amigos no momento de colocar uma barreira entre adultos e crianças. No momento de desconectá-la de nós pra conectá-la a qualquer outro lugar que não ali, presente.

Ela ainda se interessa se tem uma criança na mesa com o celular. Esse é meu desafio pessoal, encontrar o meio termo e não tornar isso algo extritamente proibido pra ela. Fico de olho no que está vendo, tento criar outras situações que possam ser mais interessantes que as telas, e não é fácil. São situações que me incomodam, mas que vou aprendendo a conviver e encontrando caminhos pra não tornar isso um problema maior. De novo, não é fácil.

Quando vamos para restaurantes, tento carregar sempre lápis de cor ou giz de cera, papel, livros – que podem ser de histórias, adesivos ou atividades, o que ela escolher. Muitos lugares aqui nos Estados Unidos – creio que já no Brasil também –  oferecem a opção lápis e papel. E enquanto aguardamos a comida, coisas incríveis podem surgir, como um desenho que diz sobre sentimentos, emoções. Através dele a criança expressa livremente o que sente e como se sente. Ele abre caminho pra você ter conversas importantes na infância. Para compreensões e conexões.

E, no mínimo, se torna a memória colorida de um jantar em família.