por Rita Durigan
“Revolução Laura” – Reflexões sobre Maternidade e Resistência, da Manuela D’ávila, é um livro que expõe a doçura de viver a maternidade em meio ao caos e ao jogo de poder da política. Que mostra a necessidade latente de incluir as crianças na nossa vida de fato, na sociedade. Ele escancara a realidade de que guardamos nossas crianças em caixinhas até que eles cresçam e se tornem alguém pronto pra viver em sociedade. E com elas, as mães que decidem estar presentes nessa infância preciosa, que passa rápido demais, e que é – ou seria – o verdadeiro momento de conexão.
Terminei o livro refletindo sobre como guardamos nossos filhos nas creches e escolas, nas agendas cheias e insuportáveis, nos colos das babás que, muitas vezes deixaram os próprios filhos em casa, nas suas caixinhas menores e menos afortunadas, pra cuidar dos nossos. Porque Manuela nos lembra o tempo todo que para militar é preciso ter consciência do nosso lugar de privilégio.
NÃO! É HORA DE PARAR COM ISSO. AS CRIANÇAS JÁ SÃO ALGUÉM, NÃO VÃO SE TORNAR. Essa reflexão me bateu no livro em vários momentos, enquanto Manuela contava fatos que ocorreram durante sua maratona política com Laura. Dos cocôs fora de hora, as acolhidas que fazem encher os olhos de lágrimas. Porque maternidade é isso, seja a da mulher que deixa o próprio filho em casa para cuidar do dos outros, quanto a dessa mulher que disputava a vice-presidência da República e escolheu levar Laura junto, porque sabia que ao seu lado ela estaria protegida. Elas estariam. Expostas, porém protegidas.
Laura viveu com a Mãe a trajetória mais insana que eu jamais seria capaz de viver. Poderia estar o tempo todo em casa, aos cuidados do Pai – que muitas vezes foi o cuidador principal e trouxe para Manuela e para nós o nosso próprio machismo de achar que esse papel é só da Mãe. Poderia estar em casa com babá, como questionaram tantos durante essa trajetória. Mas Laura e Manuela foram apenas Mãe e Filha vivendo a intensidade do momento em que a infância da menina acontece. Vivendo o agora.
E essa foi a escolha dela, que precisa ser respeitada como escolha. Como tantas escolhas.
Juntas, Manuela e Laura foram fortes. Juntas, se salvaram dos ataques, inclusive físicos, e espalharam amor e a consciência de que “Lutar como uma garota” e “ser quem a gente quer”, é mais profundo do que parece e exige que estejamos inteiras e em Paz com nossas verdades. Não significa que não vá doer, que não vamos pensar em desistir, mas “as razões certas serão maiores que nossos medos” (esse encorajamento aparece no livro).
Como Manuela lembra, Laura conhece hoje mais lugares e realidades brasileiras que muitos políticos do Brasil. E onde estão os filhos dessa maioria política masculina? Alguém se pergunta? Quem cuida deles? Todos sabemos, mulheres.
De amamentação, passando pelos diretos trabalhistas, pela a beleza com peso maior que a competência, pela falta de espaço em lugares públicos para mães e filhos, pelo parto e suas violências desde o gestar, pelos momentos de desespero materno, e pela sororidade, de tudo se vê nesse livro. Numa realidade que chega a doer de dor e de amor.
“Revolução Laura”, de Manuela D’ávila, foi um dos poucos livros que li sem parar, em um dia. Foi um dia tirado para a família, para nos recuperarmos de uma maratona insana de vida real. Sim, eu parei pra ler neste dia. Mas foi tão necessário e vital que ele me trouxe mais inteira e consciente para a minha família, a minha sociedade, a minha consciência, a minha vida.
Como disse Marcia Tiburi no prefácio do livro, “no meio desse mar de ódio, teu livro feito de amor é imensa cura”.
A editora é a Belas Letras, que tem como campanha a ação “Compre um livro, doe um livro” (veja esse manifesto).