por Rita Durigan
Quem já ouviu? Dizem que, de tão lindo, enlouquece. Será?
Faz sentido. O conceito da beleza parece enlouquecer mesmo. Não importa qual dos sentidos humanos que o torna perceptível. É um conceito que precisa ser encaixado em formatos, moldes, cores e formas, e não tem permissão pra sair dali. Será que é por isso que as sereias não saem do mar? Ou saem?
E por que não teria o conceito de beleza permissão pra sair dali?
Crenças e valores. Pré-conceito. Estamos atados aos modelos, aos moldes, as amarras.
Há um zum-zum-zum em torno da sereia que a Disney resolveu tirar da animação para ganhar vida no corpo de uma atriz. Há quem diga que é uma escolha necessária para quebrar preconceitos. Há quem diga que a atriz escolhida quebra o encanto da Ariel tradicional. Há quem diga coisas que nem vou repetir, de cruéis que são.
Outro dia vi um grupo de sereias numa ilha não tão distante de onde eu estava. Eram lindas, quem já viu um grupo assim bem sabe. As sereia tem cores e brilhos que a gente mal conseguiria identificar, mas que cabem perfeitamente na nossa imaginação.
O canto tinha sons, tons e volumes diferentes. Vezes mais alto, vezes mais baixo, vezes harmoniosos, vezes nem tanto. Mas a vibração era a mesma, uma alegria incontida. Uma felicidade que me lembrou crianças brincando. Elas não percebiam que eram observadas, por isso sentiam-se livres para ser quem eram. E não precisavam enlouquecer ninguém com seu canto.
Não havia se quer uma sereia igual a outra. Todas completamente diferentes. Lindas nessa exclusividade de ser. Elas conviviam com harmonia e encantamento. Havia admiração e respeito. Havia brilho.
De repente me peguei procurando pela Ariel com seu cabelo vermelho e sua cauda verde azulada.
Naquele instante todas se tornaram Ariel. Eu não as podia mais distinguir, eram todas iguais. Todas Ariel.
Acabou o encanto, o canto.
Acho que enlouqueci.
(Sobre a atriz Halle Bailey que vai interpretar a Pequena Sereia Ariel nos cinemas, e que motivou essa crônica, o que temos a dizer é: “que linda e feliz escolha. Nós, do Criarcomasas.com, celebramos a pluralidade humana.”)