O que gostamos: filme “Tito e os pássaros”

Por Pati Juliani

Em Star Wars, é o medo que leva os personagens ao lado sombrio da força. Ao se render ao medo, o ódio domina e o mal se fortalece. Essa foi a primeira analogia que fizemos (eu e minha filha mais velha, de 9 anos), quando conversamos sobre o tema principal do filme “Tito e os pássaros”.

A animação “Tito e os pássaro” traz não só o medo, mas a cultura do medo para o universo infantil. Fala sobre o medo que encontra lugar na irracionalidade das pessoas, que se alastra e paralisa. Um medo tão conhecido pelos adultos (através dos discursos proferidos por sensacionalismo na TV, programas de governo, etc), só que desta vez visto pelo olhar da criança. 

O filme mostra a jornada de Tito e seus amigos para encontrar a cura do surto. Uma doença, altamente contagiosa, que faz com que as pessoas se transformem em pedras. Após muitas aventuras, Tito compreende que cura pode ser dada pelos pássaros. Mas não quaisquer pássaros. Apenas as pombas. E as pombas “livres e rejeitadas”, que conhecem os homens e acompanham sua trajetória desde o início dos tempos. Elas entendem que somente juntas, conseguem sobreviver em tempos sombrios. Uma mensagem que os seres humanos parecem ter esquecido.

O medo, reforçado nas cores, distorções dos ambiente (remessa às pinturas expressionistas) e trilha sonora, contagia as crianças. Os adultos são impactados pela mensagem clara sobre união, e parceria.

“Mamãe, me lembrei do livro dos cegos que você leu”, disse ainda Giulia (9 anos). Além do Star Wars, ela fez essa outra analogia. O livro dos cegos em questão era Ensaio sobre a Cegueira, do Saramago. Como acontece com todos os livros que leio, minhas filhas me perguntam sobre o que é a história e eu procuro contar de uma maneira que seja viável para a compreensão delas (sem subestimá-las). Achei muito interessante essa analogia porque, diferente do Star Wars, desta vez ela entendeu que o medo era uma epidemia que se alastrava (assim como a cegueira).

Mas, a filha mais nova (Paola, 6 anos), não quis saber de conversa porque não gosta de nada que cause medo.

Escrito por Eduardo Benaim e Gustavo Steinberg, o filme recebeu vários prêmios fora do Brasil. Mas eu, particularmente, demorei para saber de sua existência.

Um filme denso, belo e impactante.

Tito e os Pássaros

ANO: 2018

PAÍS: Brasil

CLASSIFICAÇÃO: LIVRE

DURAÇÃO: 73 min

DIREÇÃO: Gabriel Bitar, André Catoto, Gustavo Steinberg

ROTEIRO: Gabriel Bitar, André Catoto, Gustavo Steinberg

ELENCO: Mateus Solano, Pedro Henrique, Marina Serretiello

 

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