por Rita Durigan
Não tem jeito. Nessa época do ano meu coração bate no ritmo do Carnaval. Paixão que por um tempo até deixei pra lá, mas que foi uma deliciosa parte da minha infância e adolescência vividas intensamente no interior de São Paulo.
Eram os 5 dias mais esperados do ano. Fantasias, cores, confete e serpentina, dias inteiros de folia com fantasias que minha mãe preparava pra gente com o que tivesse em mãos. Sempre com tema, conceito. Sempre pensado, costurado e produzido com amor e dedicação. E quanto eu esperava para saber o que sairia dessa mente e mãos habilidosas.
Depois vieram as noites. Me lembro de uma que, já com o sol nascido, levei a turma para tomar canja em casa, preparada carinhosamente por meu pai que nos recebeu a todos, aquele grupo de adolescente, em sua pequena mas aconchegante cozinha. Se para muitos pais e mães o Carnaval é um momento de distanciamento dos filhos, principalmente na adolescência, os meus souberam criar situações que nos conectaram, criaram vínculos.
Aliás, meus primeiros bailes de Carnaval foram com eles, que por alguns anos ganharam troféu de melhor casal folião da cidade. Depois, o troféu veio pra mim. Melhor foliã! Eu tive que esperar a idade certa, mesmo com amigas mais novas frequentando os bailes noturnos. “Na idade certa você vai”, diziam eles. Estavam certos. Não que eu concordasse na época, mas compreendi depois. Isso e tanta coisa. Também me fez dar mais valor quando chegou a hora. E estávamos juntos, com a devida distância necessária. Eles brincavam com seus amigos, eu com os meus, mas estávamos ali. E essa segurança era importante pra mim. Me fazia feliz.
Eu pulava e brincava sem parar rodando o salão. Confesso que a certa altura já sabia quem eram os jurados e aproveitava para pular mais ainda ali, com eles ou na reta de seus olhares. Mas não era uma missão, era pura diversão. Vivida intensamente naquele clube, no “centro” da cidade.
Mas também tenho saudades do que não vivi. Talvez meu imaginário tenha produzido cenas minhas e de minha filha brincando as matinês, fantasiada com produções da minha mãe. Talvez meu imaginário tenha produzido cenas dela nos carros alegóricos como eu tantas vezes desfilei. E sinto saudades disso. Como pode?!
Morando nos EUA, não consigo ir para o Carnaval do Brasil porque estamos em pleno meio do ano letivo por aqui. Ela tem limite de faltas, o que nos limita tanto de viver experiências que ensinariam ainda mais sobre a beleza de “Viver e não ter a vergonha de ser feliz! Cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz!”
Sábado, 22 de fevereiro, vai ter Bailinho de Carnaval na Brazil Ahead, centro de cultura e língua Portuguesa na qual sou professora e ela também tem sua turminha. Estaremos lá! E juntas vamos criar nossa experiência de Carnaval entre brasileirinhos e brasileirinhas no coração de Nova York. Não será igual, nada é. Mas será nosso. E, confesso, estou um pouco ansiosa e feliz!