Por Paula Tonello
Nosso 5° dia de isolamento começou tenso, mãe angustiada, pai ansioso e filha, mesmo sem compreender, sentiu e muito um pouco de cada um de nós.
Conforme o dia foi acontecendo, sentia que que nossos sentimentos cresciam de maneira desorganizada dentro dela mas não consegui ajudar, pois a apatia me dominava.
Ela chorou, pediu abraço e se afastou, dentro de casa ela fez seu próprio isolamento; uma barraca e lá ficou, sozinha, organizando seus sentimentos.
Logo que encostei a cabeça no travesseiro, senti que aquela tão famosa e conhecida culpa materna estava se aproximando e pensei: “precisamos de ação, ocupação, expansão, a única solução é aproveitar melhor nosso espaço”.
“Amanhã vamos pintar o lado de fora da casa”, foi a frase que meu marido ouviu antes de dormir, ele entendeu, concordou e dormimos.
6° dia chegou e com ele uma criança cheio de dúvidas do que faríamos, se o coronavrius tinha ido embora, quantos dias faltavam para voltar para a escola e etc…
Tentei me acalmar para que essa “ocupação” do espaço externo fosse feliz e libertadora.
A notícia que o muro do quintal seria sua tela, que ela poderia fazer o quisesse a encheu de alegria, primeiro pensamos em pintar os 3 na parede, não cabia e então oferecemos que fosse só ela e para ela, foi lindo de ver ela explorar todo o espaço, contornei o corpinho dela na parede e o resto ela resolveu, teve o apoio do pai para que ela pudesse pintar “lá bem no alto perto do teto”.
Essa sensação de soltar as rédeas, pintar um lugar “proibido” nos aliviou e nos fez respirar, 6° dia foi mais leve, a parede pintada por fora nos deu uma sensação de liberdade por dentro.
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