Por Paty Juliani
Tenho refletido muito sobre a influência que os professores e mestres tem sobre as crianças. Refletido, questionado e conversado sobre isso. Pois faço parte desses profissionais.
Semana passada, tomando o café com uma amiga muito querida, professora e artista, ela me contou como uma professora tem sido determinante na vida de sua filha. Uma professora que, curiosamente, ensina aquilo que sua filha tem mais dificuldade. Como isso tem feito sua menina rever e repensar suas próprias limitações. E como ela tem se fortalecido.
Na semana anterior a esta, presenciei uma outra amiga professora ampliando a percepção e o olhar de suas meninas. Proporcionando espaço e tempo para que suas alunas se olhassem, se ouvissem e se cuidassem, sem competições ou disputas, mas com comunhão e afeto. Pude conversar com elas (as alunas) e vi o olhar dessa educadora acolhendo e compreendendo o tamanho de seu gesto.
No início dessa semana eu ouvi de uma mãe que meu olhar se direcionava sempre para a miudeza dos fatos corriqueiros da vida (ela estava me elogiando) e disse que isso era difícil de fazer quando somos atropeladas pela correria da vida. Eu então lhe falei que quando estou sendo abduzida pelo excesso da vida contemporânea faço o exercício de retomar a minha própria infância, às falas e atitudes que me atravessaram e que, de alguma forma, determinaram muito do meio caminho.
Nessas horas, professores e mestres são lembrados.
Uma das pessoas mais importantes de minha vida foi meu primeiro professor de violão. Eu tinha 7 anos quando nos encontramos. Até hoje, quando as coisas se complicam ou me sinto desmotivada (e desqualificada), ouço sua voz. Seus conselhos e suas falas que mexiam num lugar determinante para qualquer criança: a autoestima.
Quando trabalhamos com crianças, nossa maior responsabilidade é essa: fortalecer a autoestima, um lugar que pode nos alavancar ou nos destruir enquanto seres humanos.
As crianças não têm a obrigação de serem o futuro projetado pelos adultos, as futuras especialistas, mestres ou as melhores na linguagem que estamos ensinamos, elas só têm que ser elas mesmas, ou seja, as melhores que podem ou conseguem ser naquilo que se propõe, naquele momento. E isso só se dá quando respeitamos seus desafios, suas limitações e incentivamos seu crescimento e suas conquistas. Com desejo, alegria e amorosidade, passando pela autoestima delas, fortalecendo seus próprios e singulares processos, transformamos suas trajetórias (não de futuros profissionais, mas de presentes seres humanos). Seguras, elas poderão e saberão guiar suas escolhas e compreenderão que há propósitos e lugares para todos. Cada um à sua maneira.
Hoje, as crianças se escondem atrás da falas de outras, dos corpos de outras ou de falsas vaidades, egos e exposições. Talvez ontem também. Mas hoje sabemos que todas, absolutamente todas, estão procurando seu lugar, estão querendo acolhimento, fortalecimento e aceitação. Elas são crianças, se descobrindo, tentando se encaixar e tentando fazer com que todos a percebam. E as aceitem. Não é fácil. Nunca foi.
Mas nós somos os adultos, e devemos estar atentos a tudo isso. Compreendendo que, no fundo, todas são iguais em seus medos, inseguranças e questionamentos. Que todas estão buscando o seu lugar. E que esse lugar não é o do outro, mas o seu.
Sabemos que uma sociedade justa e próspera é aquela onde cada um desenvolve seu papel, faz o seu melhor e reconhece não só suas potências, mas a do outro. E que, sozinhos, não somos nada. No entanto, quando reconhecemos nossas forças e nos unimos a outras potências (que não são nossas, mas que reconhecemos), nos tornamos imbatíveis (emocional e socialmente falando).
Eu não pude agradecer pessoalmente o Nivaldo por tudo que ele fez em minha vida e na vida de outras pessoas que conheço (ele deixou esse plano cedo demais), mas já o fiz em meu coração e em orações. Talvez também no sorriso e olhar de menina, que admirava demais aquele homem e acreditava em suas palavras. De qualquer maneira, hoje posso agradecer (e o faço), cada um dos profissionais colegas, amigos que passam pela vida de minhas meninas. É reconhecimento e afeto (sem nenhum propósito menor ou mesquinho).
Eles sabem. E sentem.
Eu também, cada vez que isso acontece comigo.
Eu e vocês, quando entendemos nosso propósito, transformamos vidas.
E isso se estende a maternidade, paternidade e cuidado, de quem quer que seja, para com as nossas crianças.
Elas merecem e precisam desse cuidado.
E dessa responsabilidade.
Sempre!

Obs: foto de uns dias atrás, tirada pela treinadora de ginástica da minha filha mais nova.