Por Dede Lovitch
Você já deve ter ouvido falar o que é um gatilho. Eu já ouvi várias vezes.
Você, inclusive, já pode ter sentido as sensações provocadas por um gatilho. A sensação de reviver um mau encontro, um mau jeito, uma violência,…
Uma violência. Várias violências, a terrível impressão de que você não consegue reagir, nem mesmo quando a situação não existe mais.
Não existe mais. Não existe mais pra quem não viveu aquilo, pra quem não passou por tudo aquilo. Tudo. Como pode uma pequena frase se transformar num tudo? Como podem poucas palavras te desorientarem, te amarrarem, te derrubarem?
Todo e qualquer comentário sobre a fraqueza humana contemporânea pode ser jogado aqui.
Poucas palavras que te levam à dor.
1 de janeiro de 2023, por volta das 19h – o gatilho
Tijuca, Rio de Janeiro.
Voltando da praia, cansados. Eu, Bernardo e Constance. Bernardo me pareceu distante e irritado (um pouco mais que o normal para um adolescente de 15 anos).
Me aproximei e perguntei se estava tudo bem.
A resposta foi ríspida.
Disse que senti que ele não estava feliz.
Ele se virou e disse aquele TUDO.
Naquele momento senti a boca bamba, o coração pequeno, as pernas secas, o sangue parado.
Ar que não saía.
Me fechei.
Chorei, chorei 11 anos, chorei o TUDO.
Aquele TUDO foi se descolando de mim, foi escorrendo pra fora, junto com as minhas lágrimas.
Eu tinha me limpado.
1 de janeiro de 2023 – após às 21h – a cura
Dentro de um quarto de hotel.
Entrei no quarto, tive uma longa conversa com os dois. Expliquei de onde tinha vindo aquele choro, contei a história do começo, meio e fim do relacionamento da mãe e pai deles.
Falei pro meu filho do medo que sentia de algum dia ficarmos afastados, não de corpo, mas de coração. Mãe tem dessas coisas.
Me abri e expurguei o TUDO.
Meu filho tinha me curado.
Te amo filho meu, te amo.
Obrigada por mais uma vez me fazer enxergar minhas fraquezas.
Tô precisando dessa cura….
Daum beijo neles e outro grande em ti.