O que gostamos: Matilda

por Rita Durigan

Quando assisti a nova versão Netflix do clássico Matilda, em dezembro de 2022, não pensei que a traria pra cá. Ainda mais neste mês de março quando estamos focando nosso olhar nas mulheres, no feminino e em suas lutas e conquistas.

Mas Matilda tem reverberado em mim.

Na ocasião, fiquei bastante incomodada com as cenas violentas contra as crianças pela diretora da escola na trama, Miss Trunchbull, interpretada por Emma Thompson. Conversando com minha filha depois, ela disse: “mamãe, é um filme. Aquilo não aconteceu de verdade”. Ok. Havia a compreensão de que era ficção. Pelo menos na história em questão. A partir daí, falamos sobre como aquilo tudo representava, de alguma forma, situações reais e que nos são impostas por um sistema ao qual adotamos como natural, e não é.

Muitas questões profundas aparecem ali, mas vou focar aqui na potência de três personagens. A primeira é Matilda, interpretada por Alisha Weir, que desde o nascimento – SPOILER para quem não conhece a história -, é rejeitada pelos pais por ser menina, entre outras questões como ser fruto de uma gravidez indesejada.

A menina se sente presa em sua própria vida. Mas através dos livros e da observação, reconhece um mundo possível lá fora. E aposta em seus sentidos e sentimentos para traçar sua jornada.

No caminho, encontra-se com as duas outras personagens que quero citar. Mrs. Phelps, a bibliotecária ambulante interpretada por Sindhu Vee, é a primeira pessoa a olhar com curiosidade e respeito para Matilda e seus sonhos e anseios. É ela quem dá a confiança necessária para que a menina acredite em suas próprias histórias. Generosa, curiosa e presente, ela abre as portas para as possibilidades na vida da personagem principal.

A outra personagem que encanta é a professora Miss Honey, interpretada por Lashana Lynch. Como tantas mulheres reais, ela segue fazendo o possível com o quase nada que lhe deixaram, mas ciente de que há coisas que precisam ser feitas e ponto. Ela é inteira, apesar de suas feridas.

Esse trio me enche de esperança no filme e na vida. A forma como elas se movem e movimentam a história, levando consigo quem cruza seus caminhos, para além de suas dores e questões individuais, fala de um movimento de vida, orgânico, que precisa seguir acontecendo. O cruzamento de suas histórias transformam as de tantas outras.

Claro que me fez pensar muito sobre nossa presença na vida de nossos filhos e filhas e de todas as crianças que passam por nossas vidas.

Diante de tantas urgências quando falamos das mulheres e suas lutas, pode parecer estranho trazer para a discussão uma ficção produzida por uma plataforma de streaming e resgatada de décadas. Mas se a arte imita a vida, a vida também imita a arte. E ouso sonhar com o dia que dançar como aquela cena final do filme seja a maior rebeldia necessária de toda nossa humanidade.

Para quem ainda não ouviu, recomendo nosso podcast da semana, no link abaixo. Uma história real, com relatos de violência física e psicológica, e o reconhecimento da justiça.

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