Por Dede Lovitch
Acredito que vocês, que tenham filhos ou convivam com alguma criança ou adolescente, sintam a mesma coisa que eu. A mesma sensação de recomeço, de retomada.
De abertura.
Cada vez que olhamos dentro dos olhos deles.
Ontem mesmo, me peguei perdida no meu medo e angustia, um medo que vinha de fora e que entrava no meu corpo pelo couro cabeludo, entrava de um jeito apertado, doído; me senti estagnada, pensei na dor das mães que perderam seus filhos por narrativas construídas no ódio.
Pensei num certo playboyzinho babaca que sonha em dominar o mundo se esquivando de suas responsabilidades.
Fui surpreendida por um olhar, foi só um olhar.
Viajei para a imensidão de possibilidades que a vida traz e que o mundo não está perdido.
Me perdi.
Pensei como podemos evitar tragédias. Pensei nas tragédias. O medo entrava de novo, agora por baixo das minhas unhas, descolando uma a uma, numa sádica tentativa de me fazer sucumbir. Pensei no desespero de uma criança ao ver uma machadinha, pensei na dor das mães que perderam seus filhos.
Pensei num idiota repleto de ideais brancos e limpinhos em cima de toda carne que se espalha por debaixo da terra.
Me virei e lá estavam aqueles olhos com uma boca, uma boca tagarela com olhos mudos, cheios de palavras. Lembrei da terra, de onde viemos e de como ainda temos essa mãe.
Pensei nas mães que perderam seus filhos.
Pensei no medo, com medo de perder meus filhos.
Pensei nas mães que perderam seus filhos.
Pensei nos meus filhos.
Mirei meu pensamento naqueles olhos, entrei lá. Pausei. Fui sugada pelas jabuticabas que sempre me trazem luz, e pairei no meio daquela imensidão verde.
E então, enfim retomei.
Respirei.
Estou aqui, vivendo tudo isso, também sou responsável, eu sei, mas também sei que aqui, estou fazendo meu melhor na micro política do dia-a-dia.