Por Dede Lovitch
E agora?
Agora – e sempre – ele quer ser jogador de futebol.
Temos tido conversas quebradas e pensamentos confusos nos últimos meses. Tentei várias vezes entender qual seria a ideia dele com relação ao seu sonho. Sonho de um menino brasileiro que nascido com habilidades para o tal esporte já se vê no glamour de ser um jogador de sucesso, cada conquista nos treinos faz questão de compartilhar, já teve alguns fracassos, mas aí se resguarda, se fecha e por alguns momentos aquele menino atraca nas dificuldades tão comuns à vida de um atleta.
Ontem, conseguimos nos aprofundar um pouco mais no assunto. Já sabia sobre o seu total desapego da vida acadêmica e então perguntei como eu poderia ajudar para que ele avançasse na ideia de ser um jogador de futebol. Como eu já esperava, a resposta foi:
– Não sei.
– Eu também não…
Pausa.
– Mas podemos ir atrás juntos, você pode conversar com seu tio (que tanto queria ser jogador profissional), sabemos que não deu certo, pergunte a ele o que aconteceu e qual caminho ele estava percorrendo, quais eram suas escolhas e essas coisas.
Agora o tio joga num time de bairro, nunca parou, mas como a grande maioria dos meninos, teve que refazer a rota de sua vida.
Falamos de como o meio é machista e relatei que não me sentia confortável das poucas vezes que tinha ido ao seu treino, mas essa não era nossa batalha agora.
– Eu vou guardar essa briga Be, na hora certa vamos lutar.
– Sim mãe, agora não vale a pena.
Senti um desespero, como se quisesse me trazer a todo momento a um destino que já estava traçado por ele mesmo.
E eu na angústia de vir com soluções, falei:
– Filho, fale com seu pai, acredito que ele possa te ajudar mais que eu…
Ele abaixa a cabeça, me olha…
– Não sei mãe…
E eu, aqui dentro de mim… olhei lá no fundo, lembrei de todas as minhas escolhas na vida, de todas minhas ações, comigo mesma, com eles e com os outros…. ele captou tudo, entendeu tudo e sente que precisa se inventar, se potencializar e se concentrar naquilo que importa pra ele agora.
E chegamos no agora novamente.
E agora?
Agora firmamos um acordo, vamos nos concentrar para construir as pontes que ele precisa para se profissionalizar.
E eu estou aqui, no agora dele e no meu.
Me sinto feliz.
Meu filho vive o presente.